
Só quem já enxergou muito pouco é capaz de entender a importância da visão para a filosofia - aquela força gnoseológica do ato de ver, a que Platão e Aristóteles fazem constante referência, é própria da razão que deseja pensar o mundo e a si mesma. Contudo, de que forma isso se dá, eles pouco explicitaram, assumindo sempre como dado o fato de que a maioria dos homens concordariam que somente uma visão perfeita nos permite distinguir as coisas, e por isso, conhecê-las melhor. Mas a visão perfeita só aparece em face de uma dificuldade de visão: a miopia ou o astigmatismo são deficiências na capacidade de ver que, uma vez superadas, apresentam as coisas como elas realmente são. Enquanto permanecemos na deficiência, as coisas se apresentam sem definição clara, sem delimitações; elas se misturam, os limites entre elas desaparecem, o borrão de cores e de intensidade de luz nos confundem; podemos pensar que vemos algo que de fato não é, e o engano neste caso só se supera pela correção da deficiência. O que estes grandes filósofos disseram ser o conhecimento senão uma visão perfeita do mundo e de si mesmo? E a filosofia, senão o modo pelo qual podemos corrigir as deficiências naturais de nosso modo de ver as coisas? O pensamento, neste caso, é a lente de contato que nos permite superar as deficiências da visão e enxergarmos melhor aquilo que até então era indefinido.
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