Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Conan Doyle - Sherlock Holmes


O que mais me fascina nas histórias policiais do Sir. Arthur Conan Doyle são menos os crimes que a mente perspicaz que se põe a resolvê-los. Sherlock Holmes condensa em sua personalidade a simplicidade e genialidade que um homem qualquer pode possuir, se fizer da observação minuciosa de seus interesses a base de todos os raciocínios que produzir. O maior dos detetives de fato interessava-se por crimes: a menor ausência deles era ceder desgraçadamente à inércia e atrofia mental. Seus pensamentos funcionavam quando estava diante do desafio, diante do mistério a ser revelado, e apenas isso poderia explicar-lhe aquilo que o próprio narrador, seu amigo Watson, não podia entender: a vontade de conhecimento. Sherlock Holmes é em uma certa medida o protótipo do filósofo, com alguma atmosfera de modernidade e um tanto de vida comum, como a de seus concidadãos, a não ser por uma diferença, a de que sua vida se tornava incomum quando posto a desvendar os mistérios que assolavam sua mente. No caso de Holmes eram os crimes - e em cada um de nós há um mistério a ser revelado, alguma coisa por descobrir que nos pareça interessar sobremaneira e nos mover, quase que anormalmente, genialmente, para satisfazê-la. A vontade de conhecimento não é um mal em si, mas o primeiro acesso que temos ao desconhecido que nos puxa para uma relação com ele, e esse frequentar o desconhecido é a base mesma de todo conhecer. E conhecer é ter se doado, o mínimo que seja, à imensidão do mundo que anseia por se fazer presente em nós. Por meio dos crimes, Holmes alcançava uma força descomunal para avançar conhecimentos e percepções que muitos em sua vida comum não teriam ou perceberiam, e por meio dessa vontade ele se tornou incomum, anormal, e por que não dizê-lo, genial. Se isso é melhor que a vida comum? Bem, ao menos a partida de Holmes dessa vida ou para a morte eterna ou para uma outra vida além dessa foi precedida de uma especial vivência nesse mundo, o que significa dizer, ele em seu ímpeto de saber acabou por experimentar a gratificação por haver conhecido algo dessa existência, o mínimo que seja, e ter podido ajudar outros, senão a verem a vida como ele, ao menos se beneficiarem de seus dotes em resolver os crimes. Mas como? Não foi Holmes um mero personagem? E o que seremos nós, meu amigo, depois da morte, senão apenas isso, personagens na boca e na memória dos que restaram? Holmes é um paradigma, um modelo, e já aqui não dos filósofos apenas, mas de toda vida que merece ser vivida: a vida que é vivenciada como um mergulho no mistério que nos impressiona, que nos incomoda, que nos puxa, até que percebamos que a graça não está em deixar a vida levar, mas em vivenciá-la com toda força em busca de sua própria realização no conhecer a si mesma.