Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Metáfora da visão II



Posta assim, como ideal a ser alcançado pelo homem, continuamente, a visão perfeita obscurece algo que se faz latente e que mostramos já na primeira parte - a nossa natural deficiência para ver. pois quando pensamos melhor enxergar as coisas, quando elas se nos apresentam mais definidas, mais delimitadas, menos obscuras, acreditamos conhecer assim melhor estas mesmas coisas, melhor que os borrões de cores e de luminosidade de uma visão deficiente. Contudo, não há visão perfeita - ela permanece sempre um ideal para o homem, um ideal inalcançado, como também nos é o ideal do conhecimento. Estamos limitados naturalmente a ver de um determinado modo, e ainda que a filosofia nos permita superar aquelas grosseiras incapacidades de ver o mundo e a si mesmo, jamais alcançaremos o conhecimento-visão definitivos. Isto sempre nos será uma meta, um fim, um objetivo demasiadamente humano.
Embora o pensamento nos auxilie a ver melhor, não se pode desprezar a intuição confusa e indefinível de nossa visão primeira, fundamental. A tentativa constante do pensamento é de fazer com que o outro seja capaz de enxergar aquilo que estamos vendo pela intuição, ainda meio borrado, sem definição plena. Mesmo o pensamento só pode se voltar para esta visão parcial, indefinível, para encontrar o motivo de sua atuação - mas poderíamos perguntar: será a intuição uma deficiência de visão, como muito nos deixam entender? O avanço da ciência oprimiu significativamente toda a possibilidade de uma visão intuitiva. Ela configura até hoje o império soberano da razão. A intuição foi jogada aos limites da arte. E a filosofia deve, justamente neste ponto, separar-se da ciência - a filosofia, como busca da plena capacidade de ver o mundo e a si mesmo, não pode incorrer no erro científico e desprezar as nuances da razão. Pensamento e intuição não são formas antagônicas de ver o mundo, mas a única forma que o homem possui de enxergar plenamente a verdade. Embora isto lhe seja sempre um ideal.

domingo, 20 de setembro de 2009

Uma perda irreparável...


O criador da popular série de quadrinhos e desenhos animados japonesa "Shin-chan", Yoshito Usui, de 51 anos, foi encontrado morto nove dias depois de ser dado como desaparecido em uma região montanhosa do Japão. A polícia acredita que Usui caiu de um precipício de 100 metros quando passeava por uma trilha. Uma perda irreparável para a série hilária de mangá e anime. Mas Shin-chan não estará orfão - haverá sempre um fã seu espalhado pelo mundo...
Fonte: G1

A metáfora da visão I



Só quem já enxergou muito pouco é capaz de entender a importância da visão para a filosofia - aquela força gnoseológica do ato de ver, a que Platão e Aristóteles fazem constante referência, é própria da razão que deseja pensar o mundo e a si mesma. Contudo, de que forma isso se dá, eles pouco explicitaram, assumindo sempre como dado o fato de que a maioria dos homens concordariam que somente uma visão perfeita nos permite distinguir as coisas, e por isso, conhecê-las melhor. Mas a visão perfeita só aparece em face de uma dificuldade de visão: a miopia ou o astigmatismo são deficiências na capacidade de ver que, uma vez superadas, apresentam as coisas como elas realmente são. Enquanto permanecemos na deficiência, as coisas se apresentam sem definição clara, sem delimitações; elas se misturam, os limites entre elas desaparecem, o borrão de cores e de intensidade de luz nos confundem; podemos pensar que vemos algo que de fato não é, e o engano neste caso só se supera pela correção da deficiência. O que estes grandes filósofos disseram ser o conhecimento senão uma visão perfeita do mundo e de si mesmo? E a filosofia, senão o modo pelo qual podemos corrigir as deficiências naturais de nosso modo de ver as coisas? O pensamento, neste caso, é a lente de contato que nos permite superar as deficiências da visão e enxergarmos melhor aquilo que até então era indefinido.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Poesia e Filosofia


Ando de certo modo afastado deste meu espaço de reflexão e exposição artística, e sem dúvidas este fato é um reflexo de meu tempo consumido principalmente pela filosofia. Certa vez, um querido professor me perguntou se o meu desejo pela literatura era maior que pela filosofia, se eu queria me dedicar mais àquela que a esta, ou vice-versa. Minha resposta foi uma menção a Sartre - para mim até hoje uma referência de que o estudo da filosofia e a entrega artística não são completamente estanques e distintos quanto se imagina. E muito pouco eu sabia que, ao me dedicar à filosofia, eu encontraria em seu interior uma batalha tão intensa por sua afirmação contra nada menos que a poesia. Enquanto alguns afirmam uma proximidade entre elas, outros decidem por negar totalmente um diálogo entre as duas. E eu não poderia escapar aqui de tomar minha posição nesta batalha - e luto ao lado daqueles que as aproximam, pelo fato de ambas possuírem em comum algo de que não podem abrir mão: a linguagem.
E já agora me parece evidente que todo o problema em saber o que cabe a uma enquanto arte, e a outra enquanto ciência, não pode se restringir a um problema de linguagem: dizer que poesia e filosofia se distinguem pela forma de sua expressão é no mínimo afirmar que tanto uma quanto a outra precisam se restringir a um tipo específico de estilo, de termos, e que o uso desmesurado de um outro tipo que não lhe pertence expressa um anacronismo absurdo por parte daquele que o executa. Quem afirma tal coisa muito pouco conhece do desenvolvimento tanto da filosofia quanto da poesia. O desejo de as distinguir acaba por criar teorias absurdas que maculam as finalidades últimas de cada uma delas.
E qual seja? A que tende o criar estético e o pensar filosófico? Ambos, e novamente uma aproximação se faz necessária - ambos tendem à desenvolver uma reflexão sobre a existência humana. Esta é a finalidade de toda a busca filosófica e estética do homem. O que as distingue, e apenas isso, é o valor que se oferece na arte à intuição, e na filosofia à razão. Estes dois instrumentos, que pertencem a alma humana, e portanto ao modo de conhecer a si mesmo e ao mundo, são parte de todo o processo de desenvolvimento de uma autoconsciência do homem ao longo de sua história. E neste sentido, filosofia e poesia são inseparáveis: poder-se-ia mesmo pensar se elas de fato não deveriam estar plenamente unidas, imbricadas, confluindo para este mesmo fim; e alguns grandes filósofos e poetas de gênio já nos mostraram que não só isso deve se realizar definitivamente, mas da própria realização desta união depende um maior e mais profícuo conhecimento de nós mesmos.