Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

domingo, 20 de setembro de 2009

A metáfora da visão I



Só quem já enxergou muito pouco é capaz de entender a importância da visão para a filosofia - aquela força gnoseológica do ato de ver, a que Platão e Aristóteles fazem constante referência, é própria da razão que deseja pensar o mundo e a si mesma. Contudo, de que forma isso se dá, eles pouco explicitaram, assumindo sempre como dado o fato de que a maioria dos homens concordariam que somente uma visão perfeita nos permite distinguir as coisas, e por isso, conhecê-las melhor. Mas a visão perfeita só aparece em face de uma dificuldade de visão: a miopia ou o astigmatismo são deficiências na capacidade de ver que, uma vez superadas, apresentam as coisas como elas realmente são. Enquanto permanecemos na deficiência, as coisas se apresentam sem definição clara, sem delimitações; elas se misturam, os limites entre elas desaparecem, o borrão de cores e de intensidade de luz nos confundem; podemos pensar que vemos algo que de fato não é, e o engano neste caso só se supera pela correção da deficiência. O que estes grandes filósofos disseram ser o conhecimento senão uma visão perfeita do mundo e de si mesmo? E a filosofia, senão o modo pelo qual podemos corrigir as deficiências naturais de nosso modo de ver as coisas? O pensamento, neste caso, é a lente de contato que nos permite superar as deficiências da visão e enxergarmos melhor aquilo que até então era indefinido.

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