Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Política, pra quê?





O que é a política? A pergunta pode soar um tanto esquisita, já que estamos no Brasil. Mas a esquisitice parece querer dizer exatamente isso - não temos nenhuma familiaridade com a política, senão com o papel vergonhoso que nossos representantes adoram representar no congresso. Por aqui, quando se fala em política se pensa em corrupção, em descaso, em safadeza, como se a imagem da política para nós fosse uma mistura diabólica de malandro da Lapa, playboy engomadinho e uma loira bem devassa. Mas talvez isso seja um sinal, não muito bom, mas um sinal de que as coisas podem ser modificadas. Bastaria que se entendesse que a política não é lá muito distante assim de nós, e que somos de igual modo malandros, playboys, devassos. Reclamar de quem então? A voz do povo é a voz de Deus, dizem as más línguas, mas talvez seja, ao contrário, a voz das profundezas mais obscuras de nossa natureza tupiniquim. Afinal, nossos representantes nos representam, e se estivéssemos assim tão insatisfeitos com a encenação deles não estaríamos inertes diante da TV ou do jornal, vendo a farsa acontecer bancada por nós. A nossa situação está deveras preocupante, mas sempre há um jeitinho, o bom jeitinho brasileiro, para saber lhe dar com a crise. A prefeitura do Rio está falida? O Estado do Rio permanece um esgoto de corrupção? Que nada! O importante é que o inverno está terminando, o verão vem chegando com tudo, e aí poderemos pedir aquela cervejinha, curtir uma praia das centenas de praias cariocas, cobiçando as loiras de plantão, com direito a fio dental e, se tiver algum dinheiro, até um beijinho. Pois é isso que importa, enfim. Nossa natureza não quer saber muito de formalidades. Deixe o terno para aqueles malandros e devassos do planalto. Fiquemos aqui pagando pra ver, literalmente, o circo pegar fogo, sonhando um dia que fosse na nossa cama...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Diálogos com a physis III



_ Como vai o Pedro?

_ Estamos indo...

_ Não parece ir muito bem.

_ Sabe como é, as mudanças...

_ Estamos sempre reclamando das mudanças... É difícil entender, mas tudo no mundo muda. Ao nosso redor as coisas fluem, umas com mais velocidade que outras, outras menos evidentes que umas. Por que esperamos que as pessoas sejam as mesmas, se as situações da vida também mudam?

_ Pois é, mas acho que acreditamos que o homem pode permanecer, de algum modo, com algumas das suas características, ou pensamentos, ou vontades...

_ Pois é, acreditamos. O velho problema da crença.

_ Sempre os velhos problemas...

_ Acho que por isso acreditamos que podemos permanecer os mesmos: porque sempre estamos envolvidos com os velhos problemas.

_ Acreditamos no sempre porque sempre acreditamos. Boa resposta.

_ Mais uma resposta a um velho problema...