Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Caim de novo em novos trajes


A sagacidade crítica com que Saramago mergulha no mundo mítico do judaísmo em seu livro mais recente é de nos tirar o fôlego, e nos leva a uma assustadora jornada pelo conflito entre a fé e a razão de um homem posto a contemplar todos os absurdos que o deus deste povo é capaz de praticar para levar seus súditos à reverência. O berço cultural do cristianismo está aqui transpassado pelo vigor das letras lusitanas de um dos maiores escritores vivos, e talvez o maior deles em língua portuguesa - O Caim de Saramago é um alimento para o espírito inconformado, que encontra na ironia a própria essência da crítica sábia, itinerante, que não se limita aos ditames da racionalidade acadêmica e formal, mas que pulsa no peito aquela serena jovialidade do artista acima das filiações, dos partidarismos, para expressar a angústia da alma em busca da beleza essencial do mundo e de nós mesmos... E não à toa a ironia nasceu juntamente com o espírito filosófico, com a paixão pela descoberta do novo, do outro, de tudo; e é pela ironia que Saramago nos mostra um "novo" antigo testamento, uma "nova" mitologia, um "novo" deus. A força de sua novidade pode ser apreciada neste belo verso a traduzir toda a grandeza que seu texto nos inspira nesta volta ao passado - Havia uma nuvem escura no alto do monte Sinai, ali estava o senhor.

A sua voz



No toque, no olhar,
na rima incontida de um gesto
no pulso pulsante da canção
que não se desfaz na boca
como mel, mas alimenta,
alivia, dá prazer... Assim,
mesmo que pudesse evitar
já não posso,
já não sou capaz de ouvir a voz
daquela insegurança que
tanto, tanto me aprisionava.
Agora aqui mesmo só
uma voz que me toma
que me invade
apenas uma palavra que me enleva
que me alegra, que me diz
– siga e não tente entender,
ouça e não tente escutar,
pois não há nada além do que
apenas o instante, o agora
tão-só para sempre o amar.


Começando tardiamente cedo



Pois é, o ano já começou e a intensidade com que deu as caras me fez sentir que as coisas vão acontecer na mesma velocidade que o tempo transcorre nestes tempos alucinantes. Espero fazer um boa viagem...