"Eu me entregava à sua beleza, à sua juventude, como se desejasse possuí-las eternamente em meu próprio espírito – anelo este inexplicável pela palavra em sua frieza e rigidez conceituais, que inibem o verdadeiro da sensação, então mutável, cambiante, intensa. As palavras captam do mundo apenas o constante, o que se mantém, o que perdura. Captam o que é extenso. Somente um jogo entre elas pode trazer à luz uma nova experiência do experienciado. Experiência outra, porém. Pois não é outra aquela experiência provocada pela poesia. A palavra poética. A realidade em jogo, no jogo. Que produz um novo sentir. Uma nova pintura. A poesia é pintura criada por palavras. Imagens em versos. Analogias. A metáfora que nos permite de algum modo re-criar as sensações vividas. Estas minhas palavras re-criam o prazer. Por analogia. Sempre.
Que se crie uma imagem então. A imagem do prazer. Pois inútil era querer possuir aquela beleza juvenil eternamente. Por isso me lançava em seus braços, para haver-me por algum tempo com a divindade do amor, aquela mesma que nos orienta insistentemente para o que há de mais belo, onde quer que possa ser encontrado. O deus do amor é também o deus da beleza. Não à toa é ela uma mulher. E o nome de Afrodite me fizera suspirar naquele momento. Lembrando-me de meus amores, de seus corpos belos, das belas ninfas em êxtase divino. O fogo consumidor da alma amante. Que consome a fé e a loucura de nosso espírito. Que nos conduz ao sagrado. Como Bernini re-criou em uma escultura belíssima. Um êxtase santo! Ao lembrar-me desta imagem fico a pensar que nada há mais que dizer sobre o prazer. Não há qualquer necessidade de criar outra imagem tão bela! De uma profundidade tão imensa que ficamos sem palavras, em contemplação." (...)
Que se crie uma imagem então. A imagem do prazer. Pois inútil era querer possuir aquela beleza juvenil eternamente. Por isso me lançava em seus braços, para haver-me por algum tempo com a divindade do amor, aquela mesma que nos orienta insistentemente para o que há de mais belo, onde quer que possa ser encontrado. O deus do amor é também o deus da beleza. Não à toa é ela uma mulher. E o nome de Afrodite me fizera suspirar naquele momento. Lembrando-me de meus amores, de seus corpos belos, das belas ninfas em êxtase divino. O fogo consumidor da alma amante. Que consome a fé e a loucura de nosso espírito. Que nos conduz ao sagrado. Como Bernini re-criou em uma escultura belíssima. Um êxtase santo! Ao lembrar-me desta imagem fico a pensar que nada há mais que dizer sobre o prazer. Não há qualquer necessidade de criar outra imagem tão bela! De uma profundidade tão imensa que ficamos sem palavras, em contemplação." (...)
"Olhei-o fixamente nos olhos, e enquanto o olhava, senti seu corpo adentrar-me ainda mais a fundo, levando-me instintivamente a cerrar os olhos e a morder os lábios, como se pudesse suplicar aos meus sentidos que me conduzissem à satisfação plena, ainda mais uma vez, e ainda mais forte que qualquer outra vez que eu já tivesse sido conduzida ao prazer. Acima, no espelho, eu o via soerguer-se tão freneticamente quanto um touro indomável, e mesmo que meus olhos teimassem em se esconder por detrás das pálpebras, pelo desejo de sentir mais intimamente os outros quatro sentidos, eu os forçava a contemplarem no espelho a beleza de me verem domada e possuída por aquela bela fera de lindos cachos negros. Cinco sentidos em profusão. Eu me sentia sendo conduzida aos céus! Eu mesma entoava ali os cânticos que a eles me enlevavam, gemidos extasiantes de plena loucura celestial, a loucura própria dos santos! Era como se meu corpo por algum tempo estivesse absolutamente absorvido pela luxúria, como se a devassidão desejasse ser vorazmente alimentada, e ao se alimentar, aumentasse ainda mais o desejo, esta minha vontade de querer ainda mais, de sentir eternamente o fluxo contínuo e vigoroso da paixão, fluxo em amor, sentir-se forte – strong, strange. Eu me sentia na pele de uma santa em contato íntimo com um anjo de fogo. Sentia como se Bernini me esculpisse ali. Era como se outra natureza me habitasse. Porque se nos foi dada a possibilidade de conhecer de que é feita a natureza divina, certamente o prazer de encontrá-la é admiravelmente similar ao gozo voraz da carne que dificilmente se sacia uma única vez. E sabiam disso todas as maiores religiões."
Trecho do livro Falosofia de Mulher,
by Cesar de Alencar
Imagem - O Êxtase de Santa Teresa - Gian Lorenzo Bernini
Mármore, 11,6x3,5 m. Período do Barroco, começo do séc. XVII
Igreja de Santa Maria della Vittoria, Roma
2 comentários:
Boa noite
Se este é somente um trecho do seu livro...fico imaginando ele completo! Siga em frente! Quero ser a primeira a receber o autógrafo de um best-seller! Adorei! Bjs Fabby
Sabes escrever com poesia, um talento para poucos. Boa sorte nessa empreitada, pq sorte nunca cai mal!
Sá
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