Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Obama pega Osama pega Obama pega Osama...




Cuidado! O barbudinho pode não ser mais barbudo, e em algum momento ele pode bater à sua porta, bater a sua carteira, ou bater outros aviões contra outras belas paisagens do mundo moderno... Mas não se preocupe! Sorria, que os "yankes" sabem o que fazem - embora nem mesmo seu cinema tenha mais assim tanta qualidade...

terça-feira, 12 de abril de 2011

O caso Wellington

(mudei a imagem anterior para essa, recentemente divulgada: bem mais interessante para demonstrar meu ponto de vista)

A polícia e os noticiários têm desacreditado dos escritos deixados pelo assassino de Realengo, sobretudo acerca de um seu possível envolvimento com facções extremistas do islã. Mas a força persuasiva que as religiões atuais exercem sobre as mentes mais jovens (e não só) é um vírus que mata aos poucos, em alguns casos, mata coletivamente. É uma endemia, uma epidemia - talvez seja mesmo uma pandemia que precisa receber os devidos cuidados preventivos para que, como já dizia Hipócrates há bastante tempo, os humores voltem à estabilidade e à harmonia. Se há algo de divino no saber humano, a harmonia é seu espécime essencial.
Por esse motivo, a linha fundamental de investigação tem sido desprezada, senão por incompetência, certamente por ordens externas que, em acordo com os interesses majoritários dos barões do capital e das cabeças humanas, providenciam um esquecimento coletivo dos verdadeiros motivos que levaram um jovem mentalmente deficiente a propagar essa onda de terror em solo brasileiro. A globalização tem seus efeitos, bons e ruins. A terra nostra, agraciada por Deus, está agora provando também dos malefícios que, dizia-se, lhe passavam ao largo.

Tasso da Silveira - Uma escola, um poeta: uma tragédia


A loucura fatal de nossa sociedade mais uma vez se estampou nos noticiários e diante dos olhos de todos. Um jovem possuído por problemas mentais e ideológicos assassinou aleatoriamente crianças em uma escola no bairro de Realengo, no Rio, deixando marcas incontornáveis. O próprio assassino havia sido vítima de inúmeras marcas da vida, do seu contexto familiar e social. As marcas de nossa cultura esquizofrênica, agonizante, em vias de ser aplaudida em um seu alvoroço descomunal pela insistente necessidade de ordem, de moral, de normalidade, quando tudo o que se exige não condiz com o que é ofertado. A lei do mercado rege a vida cotidiana: a procura encontra ampla oferta, embora o aviso seja sempre "não procure", "não consuma". Os mais frágeis não resistem. Sucumbem ao teor alcoólico da lógica capital. Viciam-se com a cultura florida e multifacetada dos tempos tecnológicos. E tornam-se antissociais, perigosos, revolucionários. Projetam sobre a mesma sociedade que os instiga um sentimento permanente de desregramento, de dissolução, de perversão. Consuma e não suma: seja. A fatalidade do destino de nosso tempo se estampa, mais uma vez. Produz o espanto, a perplexidade, o silêncio. A escola de Realengo voltará à normalidade, mas não a de antes. O silêncio fere. Talvez o poeta que lhe dá o nome possa nos dizer, ao fim, o que fica de todo esse estampar-se de uma tragédia.


Fronteira


Há o silêncio das estradas
e o silêncio das estrelas
e um canto de ave, tão branco,
tão branco, que se diria
também ser puro silêncio.
Não vem mensagem do vento,
nem ressonâncias longínquas
de passos passando em vão.
Há um porto de águas paradas
e um barco tão solitário,
que se esqueceu de existir.
Há uma lembrança do mundo
mas tão distante e suspensa...

Há uma saudade da vida
porém tão perdida e vaga,
e há a espera, a infinita espera,
a espera quase presença
da mão de puro mistério
que tomará minha mão
e me levará sonhando
para além deste silêncio,
para além desta aflição.


Tasso da Silveira, Publicado no livro Regresso à Origem (1960).
In: POETAS do modernismo: antologia crítica. Org. Leodegário A. Azevedo Filho. Brasília: INL, 1972. v.4, p.74. (Literatura brasileira, 9C)