Lembro-me daquele fatídico 11 de setembro de 2001: estava na minha época de trabalho braçal, abrindo e fechando máquinas de xerox, trabalhando com um público sempre bastante educado e simpático (sic!), quando de uma hora para outra as televisões de todos os estabelecimentos da rua em que ficava a minha firma noticiavam a mesma tragédia. Meus olhos e os de todos, admirados como sempre diante da tela mais alienante do mundo, percebiam o fogo e o desespero em uma das torres do World Trade Center, e nos indagávamos que diabos de fato estava acontecendo. Sem que o meu pensamento pudesse corresponder muito bem às informações trazidas pelas janelas da minh'alma, a admiração tornou-se ainda mais tenebrosa ao ver outro avião chocar-se contra a segunda torre, em uma cena que provavelmente teria sido muito bem produzida pelo cinema americano. Não seria na verdade um muito bom filme a ser passado ao mesmo tempo em todos os canais da tv? Muito pouco provável. A cena, em toda a sua angústia, embora parecesse um filme de guerra, trazia ao mundo real os traços luxuriosos daquela fantasia própria da ficção. Mas por que estou a lembrar-me disso? Talvez porque estejamos bem próximos de "comemorar" 10 anos daquele dia fatídico. "Comemorar"- parece ser este mesmo o sentimento próprio à lembrança de uma tragédia. Mas nossa lembrança é deveras obtusa para outras tantas tragédias, que fazem aniversário em algum momento do qual não temos nenhuma vaga lembrança. Lembrar é um fenômeno tão interessante quanto o esquecer, e talvez devéssemos perguntar por que esquecemos certas tragédias, sociais e mesmo pessoais, com uma constância dificilmente percebida, a não ser que algo ou alguém nos faça sentir novamente aquela dor, aquela angústia. As cenas das torres em queda serão estes dias uma constante na telinha da tv, e poderíamos pensar que outras tantas 'torres' decaíram em nossa vida e na vida do país, para que pudéssemos de algum modo comemorá-las com as lágrimas, ou risos, devidas.
Ou como mostrar a alma quando não se pode olhá-la no espelho, embora ela esteja ali, nos observando...
Por que estas pulsões ocêanicas?
Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?
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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.
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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.
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