Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Platão e Aristóteles, e a escrita da filosofia


Talvez a filosofia nos tenha mostrado, em sua origem, uma nada casual sobrevivência de textos, que nos trazem uma importante distinção de práticas filosóficas necessárias. Enquanto Platão, preocupado em deixar o mais bem caracterizado possível aquilo que tanto o impactou, nos restos de anos que viveu do V século ao lado de Sócrates, acreditando ser proveitoso e mesmo possível reproduzir em outros seu próprio espanto por aquele saber nascente, nada escreveu sobre si mesmo nem sobre seus pensamentos em forma doutrinal; de Aristóteles, por outro lado, e tendo sido mesmo um escritor reverenciado pela bela forma entre os que leram seus dramas, não nos restaram senão rascunhos e anotações de aula, em uma forma que se insere em algo entre o deselegante e o intragável. Mas para além do fato estilístico que parece ter sido deveras imprescindível a esses grandes filósofos, o destino nos reservou dois modos de preparação ou de produção do saber em um homem de estudos: um exotérico, destinado aos não iniciados, e cujo estilo, no melhor que pode haver da poesia, serve aos fins de despertá-los para o espanto que causa a busca pelo saber; e outro esotérico, aos iniciados na matéria, que serve ou como recordação do que foi trabalhado de modo oral ou como apontamentos para o que o será, mas nunca como algo a ser destinado a quem não tenha ainda sentido o impulso para a filosofia. E não parece que essa lição se perdeu ao longo do tempo?

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