Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Um incômodo auditivo



Para que os dedos se disponham a traçar uma sinuosa harmonia entre palavras e conceitos tão distintos entre si, criando assim aquilo que chamamos de discurso, fala, é necessário que antes haja um pensamento que de fato coordene e (ainda que não se queira admitir) crie esta sinuosa harmonia, única possibilidade de comunicação entre os homens - sem esquecermos que gestos e imagens precisam igualmente de harmonia e coordenação para que sejam entendidos. Isso nos mostra, dentre outras muitas coisas, que o animal humano, como bem afirmavam os antigos, é e será sempre um animal que pensa, cuja existência se realiza plenamente por meio do pensar. E somente quando algo muito me inquieta, me angustia, é que o discurso se realiza, a fala cria corpo, e a manifestação de meus pensamentos, seja aqui ou onde for, torna-se possível.
Pois no fundo certos assuntos problemáticos tem me incomodado deveras, e se percebo que de fato tais preocupações não estão na boca do povo, isso me revela apenas que sou um ser imerso em mim mesmo, criador de casos e de dores de cabeça pouco ou nunca necessárias, já que tudo corre a mil maravilhas no mundo e neste pequeno país latino-americano. Poderia ser que eu supusesse a maioria esmagadora das pessoas como seres extremamente despreocupados, que não param para pensar nestes problemas, haja vista já os possuírem às dezenas, por certo bem mais importantes que esses - mas não, como imaginar uma coisa dessas de mais de 6 bilhões de seres humanos? Se alguém está errado, incomodado, enlouquecido com o descaso do mundo pelo mundo - esse alguém que se interne, ou pense que lhe seja melhor talvez fugir deste mundo, já que a hipótese de compactuar com esse descaso lhe passa longe da boca...
Mas diga lá, senhor incomodado, o que tanto assim o inquieta?
Se alguém atravessou estes desabafos e chegou até aqui, isso talvez seja um bom sinal: talvez existam ainda pessoas preocupados com as coisas. Porque se dependermos de salvar o planeta (e junto dele, a nós mesmos) com a economia e a política do jeito que ela se realiza hoje, é bem provável que meus netos não possam ter filhos, já que nem mesmo a garantia de sua própria existência estará assegurada. A lógica que impera no mercado e nas casas, nas assembleias e nos botequins dos bairros, é a lógica da destruição em larga escala de todos os recursos que o planeta pode produzir, antes mesmo dele poder produzi-los. A voracidade do lucro imediato lança essa questão para um futuro que a depender desta voracidade não existirá.
Até aqui muito já foi dito. Não são poucos aqueles que anunciam os problemas da produção econômica de nosso mundo globalizado, e hoje mais que em qualquer época. Contudo, apenas um grito incontido de um povo em desespero não poderá nunca ser ouvido, no sentido mesmo de ser compreendido - no máximo o susto e o espanto é que são provocados. Pois é como antes falava: os homens só podem de fato se comunicar por meio de uma linguagem bem articulada, ordenada - ou seja, através de palavras que anunciem pensamentos. Os brados estridentes das comunidades internacionais, de países e/ou de celebridades do show business, não podem se fazer ouvir atentamente pelas massas favorecidas que controlam o mundo usando seus dólares, porque grito por grito nem os dos comunistas sobreviveram. Essa moderna "aristocracia" burguesa só tem ouvidos para uma voz, aquele som imaterial e inumano que o dinheiro lucrativo suavemente vai ressoando em seus ouvidos, como um canto da sereia mais bela, e mais digna de ser louvada. Como impedir esse encanto com gritos tão grosseiros e bárbaros, se a voz melodiosa do lucro é bem mais serena, mais límpida, mais civilizada? Há que se falar de outra forma com seres tão "refinados"...
E caberia ao governo este papel. É a política a única capaz de fazer frente aos interesses privados em favor do bem de todos. E uma teoria política que se construísse em oposição ao modelo econômico vigente deveria buscar outros valores, outras vozes a que ouvir, para livrar-se daquele encanto da miríade capitalista. Mas onde encontrá-las? Onde se podem ouvir outras vozes que não esta?
Este é um grande problema - e um grande incômodo...

Ps: A Skol não teve nada a ver com isso, claro...

Um comentário:

Phisis disse...

uihuiwhiuhwuih que bom que a skol n teve nada a ver com o texto^^