O dito é a máxima expressão do que não se pode dizer. É a sua recusa em aceitar tal limite. É prever que nada pode nos impedir quando de fato a alma sente em si pulsar aquele fogo fátuo da vida eternizada em poucas, muito poucas palavras. Porque não se pode querer mais de tão pouco tempo. E mesmo assim insistimos. É claro, porque algo perdura ainda em meio a tudo isso. A chama parece não se afugentar tão displicentemente quanto muitos gostariam. A vida sempre encontra o seu meio. E para nós, nada substitui com maior vigor e pujança aquela sensação de eternidade na beleza – a poesia é somente e apenas o pulsar do tempo eternamente engrandecido por seres tão minúsculos e efêmeros.
E a beleza está aí. Neste sentimento consolador que move o poeta em harmonia com a canção mais insondável, escondida por trás do mundo, no mundo, aquela música que nos move e co-move a alma, os olhos, o pulso sanguíneo. E a sonoridade das palavras reunidas na poesia nos faz ouvir uma música diferente, diversa, quase mesmo inaudita se para tais palavras não estivermos munidos de bons ouvidos sensitivos. As imagens que afloram são cenas de um musical operístico, são fleches passados que a todo instante emergem e se entrelaçam no jogo imagético de ouvir a si mesmo e o mundo.
São nestes momentos sem dúvida que mais uma vez descobrimos não haver qualquer distinção entre homem e mundo. Pois a beleza está aí, sempre tão brilhantemente cantada pela mais vigorosa de todas as expressões artísticas de que o homem é capaz. São pelas palavras que o mundo torna-se aquele lunático espetáculo acima dos estábulos que tantas vezes ocorre aqui dentro de toda alma, por menos poética que ela seja.