Quando o menino avistou uma ave no chão, naquele momento em que as asas do animal estavam feridas e sangravam, ele sentiu seu corpo remoer-se por dentro numa mistura de asco e prazer. Não entendia, mas soube depois - porque o fato de não ter asas fez aquela pequena ave por um momento render-se aos seus pés, como se implorasse sua compaixão. O sofrimento do animal lhe partiu o peito em dor, as lágrimas desciam pelo rosto, mas ele permaneceu imóvel, sem esboçar reação. O doce da lágrima lhe tocou a boca, o peito disparava em ritmos intensos, incontroláveis. O sol se escondia aos poucos no horizonte. E ali ele permaneceu até que a lua lhe iluminasse o rosto, novamente revelando as lágrimas que não podia conter pela morte do animal que lhe pedira ajuda, mas que ele não pôde ajudar. Não entendia, mas soube depois - porque ele, embora sonhasse dia e noite com isso, não sabia voar.
E voltou para casa um pouco mais feliz.
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