Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Prelúdio de um diálogo - Ou sobre a sensibilidade do insensível


Quando olhamos as fortes águas de uma cachoeira, a descerem abaixo ao encontro de outras tantas águas de um rio, as sensações que nos tomam são das mais diversas. Mas acima de tudo, olhamos para o movimento das águas e pensamos – as águas se movem. Todo aquele mover-se nos faz pensar na existência de alguma coisa que está para além da materialidade das águas em movimento, nos leva a tomar ciência de que há algo que se processa para além daquilo que podemos ver. A percepção da imaterialidade do movimento é em última instância a percepção de algo que pertence a uma outra natureza, que está aqui e que não se resume ao físico. O movimento é de outra ordem. A natureza do movimento é metafísica. Isto parece nos mostrar a existência de ao menos duas dimensões de natureza senão no mundo e nas coisas, ao menos em nós, que as percebemos. Ao menos em nós deve existir algo que transcende a própria fisiologia humana.

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