Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Diálogos com a physis IV

- A um indivíduo capaz de um mínimo de consciência sobre sua condição no mundo, é dado perceber que: (1) ele é algo; (2) há algo de externo a ele, e que não se confunde com ele; (3) ele é capaz de relacionar-se com este algo a ele externo. Em (1), este algo que ele percebe ser subentende (a) o ser algo no mundo, em meio às coisas externas a ele, bem como (b) ser algo que possui a percepção de ser algo, ou seja, a percepção sobre sua própria existência. Deste modo, um indivíduo que vive é capaz de perceber não só a sua existência e a do mundo a ele externo, mas também a de si mesmo enquanto algo que se percebe a si mesmo - condição que o diferencia do mundo de coisas externas a ele. Até aqui, o que o indivíduo presenciou foi uma experiência de si, que subentende e subordina todas as outras que vier a ter a partir de então.
Contudo, na sua relação com o mundo, ele percebe que há outros seres capazes de perceberem-se a si mesmos tal como ele o foi, e que é possível estabelecer um diálogo com eles de maneira satisfatória - ou seja, de maneira que a percepção que ele teve torna-se compreensível ao outro, por meio da linguagem. Neste momento, inicia-se o que chamamos de cultura, e que mais uma vez irá subentender e subordinar todas as demais experiências que se lhe sucederem.

- O que é isto?
- Estou iniciando qualquer filosofia possível...
- Mas como? Não é a filosofia mesma uma discussão sobre ideias e conceitos universalmente válidos, compreensíveis a todas as pessoas? Esta 'sua filosofia' não restringe em demasia o âmbito da discussão ao puramente subjetivo?
- Sua pergunta já mostra o pouco entendimento que minhas palavras surtiram em seu espírito. E se não há entendimento, não há filosofia.
- Mas não há entendimento justamente porque você usa as palavras à sua maneira. É necessário um acordo prévio sobre o que entedemos por cada palavra que usamos, senão...
- Então não precisamos de filosofia, mas de um bom dicionário. Acho que o Houaiss é suficiente neste caso...
- Lá vem você de novo com sua ironia!
- Só a ironia pode fazer frente ao trágico da situação a que chegamos.

2 comentários:

Leonardo Andrade disse...

Olá amigo, adorei seu texto.. e estou começando um blog. Estou pensando em adaptar ao meu, qualquer coisa eu vou linkar!!

Adorei , sucesso!!

Qualquer coisa meu e-mail é leonardoapsico@live.com

Mathias de Alencar disse...

Olá amigo!
Seja muito bem vindo sim, que bom que gostou! Boa sorte na construção do 'seu mundo' também, e sinta-se à vontade para linkar o que for mais precioso para você...
Ta registrado, abraços!