Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Manifestar - o que mesmo?


Os manifestos que tomaram as ruas brasileiras nas últimas semanas, deflagrados pelo aumento, diga-se de passagem abusivo, das passagens de ônibus iniciaram uma onda de protestos populares em vários frontes, desde apelos contra o ato médico e a recusa pela cura gay até uma necessária mudança política no país. Os meios de comunicação, ao veicularem as imagens do movimento, não abrem mão de fazê-lo, contudo, por meio de um foco privilegiado nos atos de grupos extremados, que barbarizam por violência aproveitando-se claramente da situação para infligirem sobre bens e pessoas seus instintos animalescos acumulados. Diante desse quadro duplo, em que se tem de um lado a livre e pacífica manifestação, de outro a baderna selvagem dos tipos mais exaltados, o Estado faz intervir igualmente seu poder, de modo ora pacífico ora selvagem, na medida em que tentam responder aos apelos populares. Mas ao que se está tentando responder mesmo? Se o povo nas ruas parece reverberar uma insatisfação contra o próprio governo, é possível obter alguma resposta positiva de quem só realiza atos negativos? Pode o corruptor responder contra sua corrupção, ou se está aqui, com toda força, a clamar por um "novo" governo?
Desde o instante em que a movimentação popular anunciou que seu apelo "nunca foi pelos R$ 0,20", o foco da afronta se deteve, sobretudo e até onde se pode entendê-la, nos excessos de gastos e na corrupção do governo, no que a realização da atual copa das confederações é também ele um momento oportuno para reivindicar melhorias com visibilidade mundial. Neste processo, pegam carona as muitas lutas pontuais que compõem o grito final pelas ruas, e o alvoroço por melhorias tende, por sua própria dinâmica múltipla regida de um foco comum contrário ao andamento da política atual, a se opor ao governo como um todo, contra qualquer tipo de politicagem. Não é outro o sentimento que movimenta o homem comum quando declara em bom tom ser "apartidário", na tentativa mesmo desesperada de fazer política sem partido. 
Como isso não é possível - claro, nos limites da vida democrática - a voz nas ruas aos poucos deverá optar, drasticamente, por um desfecho triplo e necessário: ou sua voz se filia aos mecanismos partidários de uma vez; ou ela terá de recorrer aos "poderes" sociais paralelos à democracia, formalmente apartidários, como as religiões e as forças armadas (formalmente porque, embora haja presença de indivíduos de ambas as instituições na luta política, esta não lhes é essencial); na hipótese de não se deixar envolver por nenhum desses dois lados, o que lhe sobra é continuar a berrar pelas ruas até que lhe obriguem a se calar, ou até que ela mesma se canse de gritar. A meu ver, esta última opção seria a menos desejável em vista das possibilidades que a luta popular apresenta, e as duas que nos sobram devem ser claramente definidas de maneira a possibilitar uma escolha razoável segundo os objetivos desejados.
Há, contudo, uma quarta via, posta aqui em separado de maneira proposital: a derrubada do governo e todo o seu sistema para a instauração de um regime ditatorial. Platão não deixou de sinalizar este perigo iminente que ronda todo o governo democrático, e quer a tirania seja capitalista ou socialista, ela é o mal que assola as liberdades individuais pela liberdade de um único homem ou grupo - um mal que, gostaria muito, não parece desejável entre as bandeiras de nossas manifestações. Não desejável, porém iminente. A falta de um objetivo comum ao movimento popular é um seu pedido latente em ser cooptado por alguma liderança, e não é outra a postura que se deverá tomar daqui para frente: será preciso forjar uma unidade, ou sucumbir ao domínio de quem a tenha para oferecer, não importando os meios para isso. Enquanto este passo não for dado, a movimentação continuará a ser vista como desabafos em praça pública, que só fazem por aumentar os atos de violência de poucos aproveitadores, sem a mais mínima ideia de onde tudo isso vai dar.

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