Quando Sócrates dizia que "virtude é conhecimento" estava enunciando um principio básico da finalidade última da ação humana: para agir corretamente é preciso ter acesso às informações que lhe dizem respeito. A liberdade no bem agir depende dos dados disponíveis para o homem ponderar a decisão mais acertada, e não poucos são os que acreditam que vivemos em uma época de luzes, livres como nunca, porque temos hoje mais acesso a informações. A que informações? Acreditamos mesmo que nos serão dadas todas as informações importantes para nossa decisão acertada? Não parece, antes, que se faz exatamente um acerto prévio do que são consideradas informações importantes, para levar os homens a decidirem o que querem exatamente aqueles que selecionam o que é importante? A atual situação dos meios de informação nos deixa com uma responsabilidade acachapante, muito pouco perceptível para quem nunca se deu ao trabalho de ir procurar as informações mais justas: o homem comum é deixado à sua própria sorte, dividido entre ter de ganhar a vida com trabalho e estudo, e ter ainda de procurar saber se o que está sendo dito por aí é de fato como se diz. Não me espanta que a maior parte da população, atarefada com sua sobrevivência, deixe o trabalho de se informar para os jornais e a televisão, deixando nas mãos de certas criaturas desconhecidas, ocultas por trás das redações, a responsabilidade de decidirem por elas. Imersas em conquistar um lugar ao sol, ou apenas um dinheiro qualquer ao fim do mês, as almas humanas seguem alienadas daquilo mesmo que as torna humanas, quer dizer, o senso de responsabilidade pelas suas decisões. Nesse ponto estão de acordo a doutrina cristã e o pensamento ateu de Sartre, além do sistema jurídico de que dispomos, para dar um exemplo laico. Antes de estar no trabalho e na luta pela sobrevivência, como gostaria o materialismo de Marx, a formação do homem está na sua consciência decisória, a partir da valoração que faz de si e do mundo que o cerca, e sem a qual pode-se chegar a ganhar o mundo inteiro e perder a própria alma. Ainda assim, pensa o homem comum: "não tenho tempo para pensar!" Esse paradoxo flagrante é tão-somente um eco de outro, bem mais profundo, muito próximo da formulação que o pai da filosofia havia dado a partir da frase que trouxemos no início: se "virtude é conhecimento", então "ninguém comete o mal senão por ignorância", e com isso entendemos melhor a miséria de nossos dias, em que as pessoas preferem ser ignorantes, mesmo que isso lhes custe a existência. Afinal, para que se preocupar com o que acontece? Não é muito mais fácil deixar a vida levar, ouvindo o que se diz por aí? Essa coisa de procurar saber e pensar é coisa de desocupado, há uma vida para ganhar lá fora! Não foi o próprio Sócrates quem disse "só sei que nada sei"? Então, deixa a coisa assim mesmo que se melhorar estraga. De minha parte, faço coro com Lulu Santos: "assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade...", com uma única ressalva: as formigas não fazem senão o que lhes é natural.
Ou como mostrar a alma quando não se pode olhá-la no espelho, embora ela esteja ali, nos observando...
Por que estas pulsões ocêanicas?
Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?
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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.
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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.
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