Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

sábado, 14 de março de 2009

Deixando Sade dizer...


Quando disse que queria me ater em alguns tópicos sobre a pedofilia, o disse porque queria pensar de que maneira este ato pode causar tanta repulsa e indignação, e do qual, único em matéria de sexo, sou de mesma opinião que o senso comum. O que há de tão perverso e animalesco neste prazer? Pensar mesmo que alguém pode por ela sentir prazer...

À mente, não tarda vir um termo dos mais comuns para adjetivar um sujeito que pratica tal infâmia: sádico. E de onde vem o termo sadismo, senão do maior representante filosófico-literário da liberdade sexual? Sade foi não somente um escritor, mas uma vida profundamente marcada pela devassidão, pela libertinagem. E se o seu nome cunha termos tão macabros e difamadores, cabe-nos ouvi-lo dizer, para que tiremos cada um as próprias conclusões.


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É absurdo dizer que, mal uma moça sai do seio da mãe, deve se tomar vítima da vontade dos pais e assim permanecer até o último suspiro. Não é num século em que a extensão dos direitos do homem é cuidadosamente ampliada que as moças devem continuar na escravidão da família, pois o poder da família é uma quimera. Ouçamos a voz da natureza sobre coisa tão interessante; que os animais (que dela muito mais se aproximam) nos sirvam de exemplo. Neles, os deveres paternos não vão além das primeiras necessidades físicas. Assim que podem andar e comer sozinhos gozam de toda a liberdade, de todos os direitos e não mais reconhecem os autores dos seus dias nem o débito para quem os pôs no mundo. Por que então, a raça humana deve permanecer acorrentada a outros deveres, fundados tão somente na avareza e ambição dos pais? Por que uma moça que começa a refletir e a sentir tem que ser dominada pelo freio paterno?
Não foi apenas um preconceito imbecil que criou tais cadeias? Haverá coisa mais ridícula do que uma menina de quinze ou dezesseis anos, consumida por desejo que é obrigada a conter, esperando em tormentos inúteis, piores que os do inferno, que seus pais consintam, depois de lhe ter estragado a mocidade, em associá-la a um marido que não é do seu gosto, que ela não pode amar pois nada tem de amável, que tudo tem para ser odiado e para importunar e desmanchar todos os prazeres da sua idade madura? Não, tais laços não podem durar, é necessário libertar a moça da casa paterna desde a idade da razão. A educação devia ser dada pelo governo e aos quinze anos todas as mulheres deviam ser senhoras do seu nariz e do seu destino, livres para cair até mesmo no vício.


By Marquês de Sade, in Filosofia da Alcova
Ilustracion in Justine, 1800


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