Faz tempo que minhas palavras não se prendem a momentos fugazes aqui neste blog, mas desta vez não me é possível calar - urge deixar aqui registrado minha opinião, indignada opinião. Não queria estar perto da alma de Schiller, onde quer que ela esteja, neste dias em que sua grande tragédia está sendo encenada no CCBB; que gritos terríveis, de um profundo desespero, ele não deve estar soltando, às dúzias, a cada momento que a produção do senhor Antonio Gilberto entra em cena! Seria impossível a qualquer artista de gênio ver tamanha afronta à sua obra e não se indignar! Isso porque em quase três horas de espetáculo, em nenhum momento o espírito trágico, a essência mais pura da obra de Schiller, de seu projeto dramático, foi suscitada por essa montagem mediana. E que pior sabor para uma encenação que se pretende trágica o ouvir ao fundo o som de risos de sua plateia! Rir em um clima trágico é o avesso do sentimento que se pretende despertar! Como pode o intenso conflito de Elizabeth, o dramático lirismo de Stuart, despertar o riso em quem se prende ao seu drama? Mas não, ainda que pudesse parecer à primeira vista, a culpa não está na plateia, movida que foi ao riso, involuntariamente - caberia à produção do espetáculo o papel de provocar o sentimento catártico que só a tragédia é capaz de produzir! Pois onde estava a música, este primordial elemento de toda tragédia? Onde estava este instrumento próprio do clamor do coro, que nos conduz a alma ao ápice da sensação? Com uma iluminação incrivelmente patética, acompanhada da incrivelmente tosca interpretação de Clarice Niskier no papel de Elizabeth, fico a pensar se também nós não devíamos gritar com Schiller, para anunciar de algum modo que o espírito trágico jamais chegou aos palcos do CCBB. Ao menos estas minhas considerações sirvam como esse grito - mas quem ouvirá? Realmente foi uma pena ver um texto brilhante, em uma tradução sem igual de Bandeira, com poucos atores geniais, valendo a ressalva especial para Julia Lemmertz em mais uma contagiante interpretação, desperdizado assim, em uma palco onde grandes obras já foram apresentadas - mas nunca com um padrão tão mediano. Talvez se a peça não fosse uma tragédia, eu a considerasse uma grande produção como tantas outras ali apresentadas. Porém, se ela não fosse uma tragédia, ela não valeria estes gritos.
Ou como mostrar a alma quando não se pode olhá-la no espelho, embora ela esteja ali, nos observando...
Por que estas pulsões ocêanicas?
Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?
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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.
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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.
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