Engraçado como somos pegos em certos momentos pela surpresa do incomensurável, por aquilo que não se pode prever e que por isso mesmo nos aterroriza e nos deslumbra. Era comum aos gregos o pensamento de que a filosofia nasce exatamente deste terrível que nos espanta, quando em face ao mistério da existência de si e do mundo, o homem se põe no caminho da ciência. E a ciência é esta consumação, própria ao espírito humano, de sua admiração pelo mundo, pela beleza que se percebe e que não se entende.
Entretanto, não há como evitar. Em nossa época mais do que em qualquer outra, essa busca humana de tornar o mundo reconhecível racionalmente, pela delimitação e especificação de tudo que acontece a uma causa, a uma explicação determinada, vê-se admiravelmente frustrada e debilitada quando nos percebemos diante do incondicionado, daquilo que não podemos prever ou medir. O mistério que envolve a existência, tanto quanto a realidade de tudo que há, nos é próprio, e dele não podemos fugir: o mistério e a sabedoria são os mais fundamentais de nossos conflitos.
O caso Susan Boyle nos remete a esta crise de nossa condição. A feiúra aparente cede lugar inexplicavelmente à beleza divina de uma voz que encantou o mundo há poucas semanas. Aquela moça recatada e tímida, que fora vítima dos risos e do infame descrédito que são capazes as pessoas de insuflar contra alguém, quando apenas a aparência leva a julgamentos extremos, mostrou-nos a todos a grandeza que pode se esconder entre as pequenas coisas.
Nada explica o encanto aterrorizante e deslumbrante por nós sentido ao vê-la e ouvi-la cantar, que este contraste que ela mesma suscitou, um contraste que se deu entre a visível feiúra de seu corpo e a beleza invisível e imaterial de seu espírito, sentida também em nossa própria alma, pela voz celestial que repercutiu aos quatros cantos do mundo. E que nos emocionou. Que nos fez ver além. Pois o corpo, a matéria se limita a ver tão somente aquilo que captamos em imagens, múltiplas e diversas, mas que nos iludem pelo pensamento de existir apenas isto que se vê.
Porém, há mais. Não à toa muito se afirmou serem enganosos nossos sentidos, e não menos a razão, quando operando sobre estes, tenta elaborar juízos e expressar verdades que se perfazem senão como aparentes e meramente sensíveis. Mas o essencial do mundo – e isso nos mostrou Susan Boyle – não está naquilo que somos capazes de entender e mensurar, mas quase sempre somos cegos para ver a verdadeira beleza de cada um, e da própria vida. E dessa forma, esta tão bela e divina criatura que agora fomos capazes de ver em Susan Boyle, em nada fica a dever àquela beleza que nos é sempre visível em sua maior referência, Elaine Paige.
Entretanto, não há como evitar. Em nossa época mais do que em qualquer outra, essa busca humana de tornar o mundo reconhecível racionalmente, pela delimitação e especificação de tudo que acontece a uma causa, a uma explicação determinada, vê-se admiravelmente frustrada e debilitada quando nos percebemos diante do incondicionado, daquilo que não podemos prever ou medir. O mistério que envolve a existência, tanto quanto a realidade de tudo que há, nos é próprio, e dele não podemos fugir: o mistério e a sabedoria são os mais fundamentais de nossos conflitos.
O caso Susan Boyle nos remete a esta crise de nossa condição. A feiúra aparente cede lugar inexplicavelmente à beleza divina de uma voz que encantou o mundo há poucas semanas. Aquela moça recatada e tímida, que fora vítima dos risos e do infame descrédito que são capazes as pessoas de insuflar contra alguém, quando apenas a aparência leva a julgamentos extremos, mostrou-nos a todos a grandeza que pode se esconder entre as pequenas coisas.
Nada explica o encanto aterrorizante e deslumbrante por nós sentido ao vê-la e ouvi-la cantar, que este contraste que ela mesma suscitou, um contraste que se deu entre a visível feiúra de seu corpo e a beleza invisível e imaterial de seu espírito, sentida também em nossa própria alma, pela voz celestial que repercutiu aos quatros cantos do mundo. E que nos emocionou. Que nos fez ver além. Pois o corpo, a matéria se limita a ver tão somente aquilo que captamos em imagens, múltiplas e diversas, mas que nos iludem pelo pensamento de existir apenas isto que se vê.
Porém, há mais. Não à toa muito se afirmou serem enganosos nossos sentidos, e não menos a razão, quando operando sobre estes, tenta elaborar juízos e expressar verdades que se perfazem senão como aparentes e meramente sensíveis. Mas o essencial do mundo – e isso nos mostrou Susan Boyle – não está naquilo que somos capazes de entender e mensurar, mas quase sempre somos cegos para ver a verdadeira beleza de cada um, e da própria vida. E dessa forma, esta tão bela e divina criatura que agora fomos capazes de ver em Susan Boyle, em nada fica a dever àquela beleza que nos é sempre visível em sua maior referência, Elaine Paige.
'esse homem, caro Sócrates, verá bruscamente certa beleza, de uma natureza maravilhosa, aquela que era justamente a razão de ser de todos os seus trabalhos anteriores. Verá um que, em primeiro lugar, é eterno, que não nasce nem morre, que não aumenta nem diminui, que além disso não é em parte belo e em parte feio, agora belo e depois feio, belo em comparação com isto e feio em comparação com aquilo, belo aqui e feio acolá, belo para alguns e feio para outros. Conhecerá a beleza que não se apresenta como rosto ou como mãos ou qualquer outra coisa corporal, nem como palavra, nem como ciência, nem como coisa alguma que exista em outra, como por exemplo num ser vivo ou na terra ou no céu. Beleza, ao contrário, que existe em si mesma e por si mesma, sempre idêntica, e da qual participam todas as demais coisas belas'.
Banquete, Platão.
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