Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

domingo, 17 de maio de 2009



Cada olhar de mulher que respiro,
cada verso escrito com prazer
deste amor, quando por não te ter,
excedo meus versos em martírio...

Cada lírico avesso da fortuna
num retrocesso que avança, sem querer,
jaz em meu peito, de inútil ternura
lançado por ti às favas do sofrer!

Se em teu olhar, ao menos a esperança
que colorem os belos campos virgens
gerasse a flor, na pureza de criança;

eu do amor não teria só miragens,
desvelaria na dor tua fragrância
- meu leito tornado mais que imagens!

Imagem, by Picasso.

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