– O que mais me seduz nesta visão...
– Qual visão?
– Esta aqui, bem à frente: o movimento das águas descendo em cascata...
– Espetacular, realmente!
– Então, era disso que eu falava, deste movimento... É o que mais me seduz, não propriamente o fato de as águas se moverem, mas de nós conseguirmos apreender algo assim tão imaterial.
– Mas o movimento é físico, não? Ao menos não é o que se estuda em física?
– Estuda-se o movimento pelas suas consequências, a partir de algo que está se movendo, mas não o movimento em si mesmo, como algo material. Isso seria impossível!
– Mas então teríamos de dizer que o ar também é imaterial?
– Por que razão?
– Porque o estudamos por suas consequências, como quando analisamos sua pressão ou sua temperatura...
– Mas é exatamente isso o que estou dizendo!
– Isso o quê?
– O que eu quis dizer é que o movimento é algo como a pressão e a temperatura, para tomar o seu exemplo. É algo que apreendemos das coisas, embora não exista por si mesmo.
– Quer dizer com isso que o movimento é algo como a temperatura, e que ambos são semelhantes porque são coisas imateriais, ou seja, que não existem como entes?
– Assim como eles são também semelhantes à nossa alma...
– Como assim?
– Pois da mesma forma que o movimento não pode ser apreendido sem os entes que se movem, posto que o movimento não existe por si mesmo, assim também a alma possui uma outra natureza, diferente dos corpos que a manifestam e sem os quais não a poderíamos apreender.
– Deve-se concluir então que a alma não existe sem estes mesmos corpos que a manifestam?
– Na verdade, não temos meios suficientes de provar que o imaterial pode perdurar sem a matéria...
– Então apreciemos a paisagem apenas, e deixemos essas coisas de lado!
– Como seria possível apreciarmos esta paisagem se deixamos estas coisas de lado? Uma tal postura seria tudo, menos apreciação...
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