Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

domingo, 21 de abril de 2013

As origens das formas religiosas indo-européias


Do que se pode saber sobre as formas religiosas das comunidades indo-européias tem-se que, basicamente, sua estrutura é pastoril, embora conhecendo a agricultura, cultivando bovinos e cavalos, além de se organizarem tendo em vista sobretudo a posição bélica e conquistadora. Isso se perceber pelas palavras comuns a esses povos, de forte incidência da sua economia nômade e militar. E um dos traços marcantes da cultura e dos processos religiosos indo-europeus é justamente a simbiose, a assimilação e revaloração das culturas e dos processos religiosos das cidades e tribos conquistadas.
Como exemplo, pode-se perceber o processo simbiótico pelo qual provavelmente passaram os povos indo-iranianos. Chamando suas tribos com um nome que significava 'nobre', 'homem nobre' (ária, daí religião ariana e povos arianos), os arianos não demoraram a mitologizar tanto seus adversários, tomados como 'demônios' ou 'feiticeiros', como suas batalhas com estes povos. A ocupação de um novo território dava-se ao erguer um altar de fogo dedicado a Agni, que simbolizava o ritual da Criação. Desse modo, o território dominado, em razão do rito, transformava-se do 'caos' em 'cosmo'.
Outro aspecto fundamental das sociedades indo-européias está na sua estrutura tripartida. Provável reinterpretação das concepções acerca do deus do Céu - Criador, Soberano e Pai - as formas religiosas e sociais dessas comunidades se distinguiam em três classes principais: a dos sacerdotes/juristas, a dos guerreiros e a do homem comum/produtor. A estas três classes correspondia uma tripartição funcional das divindades: os deuses soberanos e legisladores, os guerreiros e protetores e as divindades da fecundidade e da prosperidade, agrícola e pastoril. Em comum à tal tripartição, no entanto, estava a presença do deus do Céu, ou na verdade, do Deus ele mesmo (posto que o termo indo-europeu para 'deus' é o mesmo usado para designar o céu, 'deiwos'; lat. deus, sânsc. devas, iran. div, lituano diewas). Pode-se imaginar que o céu estivesse desde sempre atrelado à concepção do homem primevo acerca do divino, conferindo-lhe aquelas posteriores propriedades tripartidas de Soberano, Criador e Pai.

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