Ou como mostrar a alma quando não se pode olhá-la no espelho, embora ela esteja ali, nos observando...
Por que estas pulsões ocêanicas?
Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?
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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.
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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.
domingo, 7 de abril de 2013
Diálogos com a physis VI
- E então, o que tem feito?
- Estudado.
- Ainda não se formou?
- Não é isso, não estudo para me formar...
- Então o quê?
- Então é isso, estudo.
- Pra quê, homem? Quem estuda estuda pra se alfabetizar, não é assim, ou pra passar de ano, ou então pra arrumar trabalho, não é? Pois então, meu velho, pra que estuda?
- Para mim.
- Pra você? Ora não me diga! Você, sempre irônico.
- Não é ironia...
- Mas vai, diz aí, qual é a garota agora? É bonita a guria?
- Quem?
- A mulher que te faz estudar?
- Mas não tem mulher nenhuma!
- Ah, vai lá, não se esconde do teu amigo não, vai! Quem é a rapariga? É gostosa?
- Mas que coisa! Já disse que não tem mulher nenhuma!
- Então o quê?
- O que o quê?
- Pra que estuda?
- Ora essa, não falei: para mim mesmo. Não se lê poesia para nada senão para nós mesmos.
- O que você faz com isso?
- Bem, se você tivesse lido talvez não me fizesse essa pergunta. Mas tudo bem, eu explico: há dois tipos de vida, aquela na qual o homem faz questão de se igualar aos demais, uma vida por assim dizer horizontal, e aquela vida na qual o homem se aprofunda naquilo que o incomoda, se aprofunda na sua existência e nas perguntas que traz dentro de si, uma vida por assim dizer vertical. Entende?
- Sim, como a cruz. Mas o que tem a religião com isso?
- Mas quem falou em religião? Estou falando de nós, do modo como a gente escolhe levar a nossa vida. E a poesia é um tipo de experiência que nos faz levar uma vida vertical.
- Ta vendo, eu sabia!
- O que há?
- Eu sabia que essa coisa de estudo ia acabar te deixando pirado, meu velho! Sai pra lá que isso pega!
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