Aquele rapazote chegou à minha sala com o rosto bastante interessado. Parecia surpreso, mas seu olhar cabisbaixo escondia algo. Era Tímido. Reservado. Era uma doce alma. Uma alma ainda calada. Alma sem versos próprios, porque ainda desconhecido da paixão. Era essa alma doce dos rapazotes que eu adorava. Para tê-la em minhas mãos, para lhes ensinar versos calorosos. Para fruir de sua docilidade intempestiva a fim de marcar meu corpo com sua ânsia de conhecer.
Não acho que meu desejo se torne ainda mais voraz devido à presença dessa doce inocência juvenil. Não é propriamente a inocência dócil, mas a ideia de uma torrente pulsante de instintos, de um emaranhado complexo entre vontade e razão, que de fato me atrai e seduz – este desejo que sinto surge exatamente quando penso que uma alma doce e inocente como a dele se encontra na verdade em si mesma em constante luta contra sua animalidade física, corpórea, numa luta entre corpo e alma: dócil alma, carnalidade voraz.
Quem venceria aquele embate? Na certa, seus pensamentos borbulharam em volúpia ao me ouvir chamá-lo para vir à minha sala após a aula. Aqueles negros olhos que tanto me olhavam enquanto os meus lábios se moviam, na mesma intensidade das grandes poesias, aqueles negros olhos postos em meus lábios enquanto eu recitava Drummond e Pessoa, enquanto eu diversificava os sons para tentar traduzir a beleza versificada de Augusto dos Anjos, ou ainda a ironia de Gullar, pois sim, enquanto eu recitava aqueles versos diversos mas exultantes, seus olhos negros e cobiçosos passeavam pelos meus lábios, acredito tê-los visto descer até o meu decote, deslizando pelo meu corpo como se o calor de seu erotismo me incendiassem à distância. Ele não era como os demais garotos, que sempre correm atrás de outras garotas: ele parecia querer ser mais.
Antes de entrar, ele se deteve na porta. Olhava-me bastante surpreso – Pode entrar, eu disse para ele. Trazia nas costas sua mochila e tinha ainda alguns cadernos na mão. – Venha, chegue mais perto, ponha suas coisas sobre aquela cadeira e sente-se aqui. Era um bom garoto. Fez tudo quanto havia lhe dito, sem tirar em nenhum momento seus olhos de mim. Eu estava sentada em uma cadeira, por trás da minha mesa. Ele sentou-se à minha frente, e disse com a voz um pouco embargada: – Pois não, professora. – Sabe por que te chamei aqui? Indaguei, sugestiva. – Não senhora. Voltei a sugerir algo. – Nem faz alguma ideia? Eu tentava brincar com sua mente. – Não senhora.
Dava para sentir de longe seu coração acelerado. Ele sequer piscava, como se tentasse indagar a mim mesma, ao meu olhar e aos meus movimentos, o que afinal de contas pretendia com ele. Sorri com o canto dos lábios e me levantei para que ele notasse que a saia preta que antes eu vestia já não cobria mais o meu corpo. Estava com uma lingerie também escura, como a meia calça, o que dava um contraste interessante com a blusa branca e o meu decote. Dirigi-me até a porta e tranquei-a, sempre a olhar para aqueles belos olhos negros. A janela é a porta da alma.
– Eu te chamei aqui porque quero lhe mostrar algo, e sei que você certamente irá gostar muito. Eu havia encostado na porta para que ele tivesse tempo de apreciar cada parte do meu corpo disponível para ele. – Faz ideia do que seja? Ele continuava seguindo-me com seus olhos, apreciando a dança sensual que minhas coxas ofertavam para quem apenas se concentrasse na minha buceta. Era o que ele estava a fazer, e chegou mesmo a se incomodar na cadeira ao perceber que eu estava me despindo bem à sua frente.
Aproximei-me de onde ele estava, e conforme me aproximava de seus olhos, pude sentir meu corpo se excitar, o coração também acelerado, havia um risco perpétuo se nos pegassem ali sozinhos. Quando estive bem perto, pude ver o seu volume na calça jeans, volume maravilhosamente sugerido em toda a sua potência de vida. Cruzei com as pernas por cima de seu colo e me sentei sobre a mesa, seu rosto ficou logo à minha frente, minha buceta aberta parecia haver enfeitiçado o garoto. – Sabe o que é isso? Ele não mostrou qualquer reação imediata, mas seus olhos lhe denunciassem o tesão. Ele não me olhava, não conseguia, estava fascinado com meus lábios abertos bem diante de sua face. – Sabe o que é isso? Perguntei outra vez, como se quisesse despertá-lo de um transe. Sei. Ele respondeu com um leve sorriso. – Sei que você desejava há muito tempo a oportunidade de poder devorá-la, via em seu olhar o desejo pulsando toda vez que eu entrava em sala, toda a vez que trazia versos de amor e de loucura. – Isso te incomodava? Ele conseguiu me dirigir aquela pergunta com uma coragem renovada, talvez fosse já a realização de que nós dois, ali juntos, não poderíamos fugir ao destino. – De maneira alguma, pelo contrário... Desconfiava que você ficasse excitado ao me ver em sala. Então pus minha mão no seu membro, para senti-lo endurecido, para deixá-lo mais excitado. – Seu corpo já agora me mostra que eu tinha razão. Não é verdade? Ele deteve-se outra vez sem dizer uma palavra. Sentia apenas minha mão acariciar seu pau endurecido. Os olhos queriam fechar mas ele se conteve. – Sempre que a ouvia recitar aqueles versos, meu único desejo era fuder com a senhora.
Levei-o até o sofá próximo à estante de livros da sala. Sentei primeiro e delicadamente abri minhas pernas, enquanto eu terminava de despir meus seios. – Agora chupe meus lábios como se fosse devorá-los, rapaz, devore-os como você desejou ardentemente fazer cada dia que me via, a cada aula. Porque hoje terá uma aula como nunca, uma aula que jamais se esquecerá.
O garoto tampouco resistiu. E como sua boca era divina! Como a alma dócil e voraz daquele garoto podia me enlevar tão arrebatedoramente! Eu parecia perder a razão ao sentir sua língua roçar meus lábios, sua pele inocente e delicada afundada em gozo profundo era a mais indescritível das sensações. Eu podia não dizer mais nada. Podia me entregar em intenso orgasmo.
Mas eu queria mais. Enquanto ele se perdia entre as minhas pernas, minha boca se pôs a recitar versos.
Fome! E, na ânsia voraz que, ávida, aumenta,
Receando outras mandíbulas a esbanjem,
Os dentes antropófagos que rangem,
Antes da refeição sanguinolenta!
Naquela ânsia voraz, eu me decompus em êxtase. Já não me reconhecia, nem lembrava onde mais estávamos. O risco era chegar a gemer tão alto a ponto de atrair a atenção para nossa sala. segurei o quanto pude. Para me controlar, acendi um cigarro, e a cada baforada minha boca exalava um gemido de prazer no ouvido do rapaz.
Um temor repentinamente me sobreveio – e se alguém viesse até aqui e nos encontrasse agora, eu sentada fumando, e entre as minhas pernas um aluno devasso supostamente sob meus cuidados, devorando minha intimidade no berço azul das névoas matutinas? Por certo, não seria a primeira vez que algum desses professores se trancava em uma sala com seus alunos. Valia o risco, pensei. Valeria mesmo? Não estaria, afinal, sucumbindo a esse Mistério da Carne Soberana? Mas poderia desejar não ser quem sou, poderia não desejar esta devassidão intensa, este pulsar de excitação? Eu ansiava por ser conduzida a nado até o horizonte de mim mesma, até o mais fundo de meu próprio abismo. E aquele jovem corpo era meu guia!
Entre o gozo que aspiro, e o sofrimento
De minha mocidade, experimento
O mais profundo e abalador atrito...
Queimam-me o peito cáusticos de fogo
Esta ânsia de absoluto desafogo
Abrange todo o circulo infinito.
Fi-lo gozar sem qualquer cerimônia, quando minha boca recolheu seu membro endurecido, todo ele, de uma vez. O rapaz estava louco de tesão, sequer pôde esperar para penetrar a fundo meu mundo interior. Tanto melhor. Era minha forma de deixá-lo cedendo. Sabia que eu estaria a partir de agora em seus sonhos mais inconfessos, e sua ânsia pelos meus versos levaria a que ele descobrisse poesia pelo toque das suas mãos. Estava feito ali mais um poeta. Depois de alguns minutos e um beijo, ele saiu pela porta, um pouco vermelho, ainda extasiado, por certo esperançoso de que pudesse ainda fuder minha intimidade algum outro dia. Bem que eu teria apreciado isso. Fiquei aqui, porém, um pouco mais, remoendo essas sensações que ele me fez sentir, exalando pela minha boca as baforadas do fumo acalentador, nua e indefesa.
Talvez fosse o perigo daquela situação aquilo que me excitava. Corro o risco de ser exonerada do mundo normal, condenada por devassidão. Talvez isso me deixe perdida em sofrimento, insatisfeita. Nada que o gozo do prazer não valesse a conta. E prazer se diz em versos, se eleva pelo êxtase até os limites do aceitável. Sou uma insatisfeita por natureza. Gosto da sensação de me perder no amor para me encontrar ao final. Nua e indefesa. Inconfessada para o mundo. Ao menos meu trabalho, feito com esmero, alivia-me o fardo da consciência – trabalho de ensinar poesia às jovens mentes deste país cheio de gente conformada com a miséria de si mesmas. Sempre será minha preocupação, meu dever será, com prazer, ofertar a esses garotos sua primeira poesia. Para me descobrir indefesa na suavidade inocente do olhar selvagem dos instintos.
Na insaciedade desse gozo falho
Busco no desespero do trabalho,
Sem um domingo ao menos de repouso,
Fazer parar a máquina do instinto,
Mas, quanto mais me desespero, sinto
A insaciabilidade desse gozo!
A Augusto dos Anjos,
Por seu legado poético.
3 comentários:
Cesar, num sabia q vc era tão erótico! rsrsrsrsrsrrs... Praticamente um Augusto dos Anjos do ano 2000!!!rsrsrsrsrsrs... Sexo poético!!!! rsrsrsrsrs...
Essa talvez seja a grande possibilidade do blog, mostrar um pouco de todos os meus lados...
Valeu querida, pela leitura e pelo comentário e pelo elogio - Um Augusto dos Anjos... ainda chego lá... rsrsrsrsr
Formidável!!! Um texto erótico digno de aplausos! Adorei! Parabéns! Bjs Fabby Lima
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