Que as cachoeiras venham abaixo! A farsa está instalada: o exercício retórico dos seus atores será mais uma vez boa diversão para os aficionados em aprender a técnica da oratória. Se a CPI tem razão de ser instalada, e se ela tem mostrado, mais que denúncias de envolvimentos de parlamentares com um bicheiro, um sórdido e, diria mesmo, cotidiano esquema de corrupção, da empresa Delta junto a obras do Governo (petista ou de seus aliados, na maioria dos casos), o alvoroço da mídia sobre ela esconde uma verdade que muitos ainda não se deram conta: o Governo tem feito pouco caso dos possíveis resultados de mais uma CPI contra a corrupção. Para um partido que tenha tido a capacidade de sobreviver às denúncias grotescas do senhor Roberto Jefferson sobre o mensalão, em 2005, parece desnecessário se preocupar com eventuais alardes sobre sua veia corrupta. No fundo, é pelo mote do "rouba mas faz" que a sequência de governos petistas tem ensinado aos mais novatos que não é possível fazer política honestamente, que a corrupção é inerente aos jogos de poder, e que aquele que não se sujar não pode realizar nada de significativo para a população.
Teríamos
então que perguntar - o que o Governo vem fazendo, sob o alegado mote,
para o bem da população? Enquanto a CPI engatinha seus primeiros passos,
a senhora Dilma aprovou junto aos bancos estatais um corte nos juros
bancários, numa clara, e mesmo anunciada, ofensiva contra o sistema
bancário do país. Isso é lá uma aposta e tanto para agradar o
contribuinte! Mas será que agradaria igualmente sabermos que a dita
empresa Delta, ameaçada pelas denúncias da Polícia Federal e agora da
CPI, está em vias de ser comprada pelo grupo J&F Holding, cujo
conselho consultivo é presidido pelo ex-presidente do Banco Central, o
senhor Henrique Meirelles, e que é o grupo controlador do frigorífico
FBS, cujo patrimônio possui um terço de investimento do BNDES? Talvez
não seja tão animador pensar que é o nosso dinheiro que paga o teatro
político em Brasília, e que agora arcará com as despesas de empresas
falidas devido a denúncias desta mesma política paga por nós. No fim das
contas, se tivéssemos ouvidos para ouvir, a voz ressonante do "rouba
mas faz" teria dado origem a sua verdadeira voz: "põe na conta do povo,
que tá tudo certo". O que nos impede de ouvi-la? Deve ser o barulho
constante das águas descendo cachoeira abaixo.
Num
futuro próximo, talvez o que nos impeça de ouvir não seja exatamente a
nossa incapacidade para nos darmos conta do que acontece frente aos
nossos olhos. O próximo plano político do partido do Governo,
abusivamente anunciado pelo presidente do partido Rui Falcão, está em
afrontar a mídia com um regime - diriam os russos e alemães, com uma boa
experiência nessa área - totalitário em sua essência. Quem não
desconfia que o PT só entrou na política para realizar o socialismo a
qualquer custo, e quem ainda não percebeu que as experiências
socialistas não foram as mais desejáveis, não poderá ouvir nem ver os
próximos atos desta "Comédia de erros".
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