Vivemos, e estar vivo é ser constante e avassaladoramente atravessado por preocupações de toda natureza, por incômodos, angústias que podem se resumir a um sofrimento humano substancial, a um sofrer com as urgências de coisas que sabemos, no mais íntimo, serem fúteis, pueris, etéreas, e ainda assim desejá-las, não se sabe bem por quê. E qual não seria o propósito de todas essas preocupações dispersantes senão uma capacidade de focar, uma atenção integrante, que nos faz perpassar o sofrimento da vida com a fina certeza de sermos algo, sermos alguém que sofre? A atenção é a atividade humana mais digna, mais elevada, e por isso mais difícil - khalepós tà kalá: difíceis (são) as coisas belas, como diziam os gregos. Ter ciência da prioridade de um comportamento atencional, não disperso em meio às preocupações, e realizá-lo pode se traduzir no caminho que nos conduz até o nosso Eu imortal.
Ou como mostrar a alma quando não se pode olhá-la no espelho, embora ela esteja ali, nos observando...
Por que estas pulsões ocêanicas?
Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?
***
A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.
***
A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
O fundamental na vida
Há dois tipos básicos de modo de vida: um dissolvente, outro integrante. Por serem um estilo de vida cujo fruto remonta aos tipos básicos de pensamento, todo homem em algum momento já provou de ambos os modos, sem talvez ter se dado conta disso. Mas para além de provar, um modo de vida é uma escolha. E ai entende-se que uma consciência vívida que perceba as nuances de cada um dos estilos é o primeiro passo para qualquer decisão mais profunda.
O que sobrou da religião
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 12 de maio de 2010
Diário do Comércio, 12 de maio de 2010
Se há neste mundo um fato bem comprovado, é
a percepção extra-sensorial durante o estado
de morte clínica. Um corpo inerte, sem batimentos cardíacos
ou qualquer atividade cerebral, desperta de repente e descreve,
com riqueza de detalhes, o que se passava durante o seu transe,
não só no quarto onde jazia, mas nos outros
aposentos da casa ou do hospital, que de onde estava ele não
poderia ver nem se estivesse acordado, bem de saúde
e com os olhos abertos. Isso já se repetiu tantas vezes,
e foi atestado por tantas autoridades científicas idôneas,
que só um completo ignorante na matéria pode
teimar em permanecer incrédulo. Mas mesmo alguns daqueles
que reconhecem a impossibilidade de negar o fato relutam em
tirar a conclusão que ele impõe necessariamente:
os limites da consciência humana estendem-se para além
do horizonte da atividade corporal, inclusive a do cérebro.
A relutância em aceitar isso mostra que o “homem
moderno” – o produto da cultura que herdamos do
iluminismo – se identificou com o seu corpo ao ponto
de sentir-se amedrontado e ofendido ante a mera sugestão
de que sua pessoa é algo mais. É evidente que
aí não se trata só de uma convicção,
de uma idéia, mas de um transe auto-hipnótico
incapacitante, de um bloqueio efetivo da percepção.
Esse estado é implantado nas almas pela tremenda pressão anônima da coletividade, que as mantém em estado de atrofia espiritual mediante a ameaça do escárnio e o temor – imaginário, mas nem por isso menos eficiente – da exclusão. Infinitamente multiplicado e potencializado pelo sistema educacional e pela a mídia , o que um dia foi mera idéia filosófica, ou pseudofilosófica, incorpora-se nas personalidades individuais como reflexo de autodefesa e, na mesma medida, restringe a autopercepção de cada qual ao mínimo necessário para o desempenho nas tarefas imediatas da vida socio-econômica. É tudo uma profecia auto-realizável: se a evidência avassaladora da percepção extracorporal é negada, não é só porque as pessoas não acreditam nela – é porque se tornaram realmente incapazes de vivenciá-la de maneira consciente. Vivem alienadas da sua experiência psíquica mais profunda e constante, encerradas num círculo de banalidades no qual o triunfalismo “cultural” e “científico” da mídia popular infunde uma ilusão de riqueza e variedade.
O “mundo real” no qual essas pessoas acreditam viver é o dualismo galilaico-cartesiano, já totalmente desmoralizado pela física de Einstein e Planck, mas que a mídia e o sistema escolar continuam impondo à alma das multidões como verdade definitiva: tudo o que existe nesse mundo são as “coisas físicas” e, em cima delas, o “pensamento humano”, as “criações culturais”. De um lado, a realidade dura da matéria regida por leis supostamente inflexíveis, nas quais se fundamenta a autoridade universal e inquestionável da “ciência”; de outro, a pasta mole e dúctil do “subjetivo”, do arbitrário, onde toda opinião vale o mesmo. Dessa esfera “subjetiva” faz parte a “religião”, que é o direito de crer no que bem se entenda, com a condição de não proclamá-lo jamais verdade objetiva ou valor universal.
Nessas condições, o próprio exercício da religião torna-se uma caricatura grotesca. Tanto quanto o ateu, o homem religioso de hoje em dia acredita piamente na existência de uma esfera material autônoma, regida por leis próprias que a ciência enuncia, só de vez em quando rompidas pela interferência do “milagre”, do “inexplicável”, do “divino”. Por mais que a filosofia esculhambe com o “Deus dos hiatos” (aquele que só age por entre as brechas do conhecimento científico), ele é o único que restou no altar das multidões de crentes. Oficializada pelo establishment governamental, universitário e midiático, a rígida separação kantiana de “conhecimento” e “fé” tornou-se verdade de evangelho para a maioria das almas religiosas, embora ela seja, em si, perfeitamente herética à luz da doutrina católica, interpondo um abismo infranqueável entre dimensões cuja interpenetração, ao contrário, é a própria essência da concepção cristã do cosmos. É novamente a profecia auto-realizável em ação: à percepção mutilada do eu individual corresponde uma religião mutilada, e vice-versa.
Quando digo percepção mutilada, estou afirmando, taxativamente, que a imagem do eu como algo que reside no corpo ou se identifica com ele é fantástica, ilusória, doente. Ela impõe à consciência limitações que não são de maneira alguma naturais, muito menos necessárias. Todas as tradições espirituais do mundo, todas as disciplinas sapienciais começam pela constatação óbvia de que o eu não é o corpo, não “está” no corpo mas de certo modo o abrange como o supra-espacial transcende e abrange o espacial (este é balizado por certas relações matemáticas que, em si, não estão em parte alguma do espaço). Mas uma coisa é compreender isso por pura lógica, outra bem melhor é poder constatá-lo no fato vivo da percepção extra-sensorial em casos de morte clínica. Bastaria, a rigor, um único episódio desse tipo para dar por terra com a balela de que o cérebro, isto é, o corpo, “cria” a cognição, o pensamento, a consciência. Mas os episódios são milhares, e o desinteresse dos crentes por esse tipo de fenômenos (mais estudados por ateus, adeptos da New Age e budistas do que por católicos, protestantes, ou mesmo judeus crentes) denota que a mente religiosa já se conformou com um estado de existência diminuída, em que a alma supracorporal, condição fundamental do acesso a Deus, só passará a existir no outro mundo, por alguma transmutação mágica da psique corporal, em vez de constituir já nesta vida a nossa realidade pessoal mais concreta, mais substantiva e mais verdadeira, presente e atuante nos nossos atos mais mínimos como nas nossas vivências mais elevadas e sublimes.
Durante milênios cada ser humano, ao pronunciar a palavra “eu”, referia-se de maneira imediata e automática à sua alma imortal, a única que podia orar e responder por seus próprios atos ante o altar da divindade. Dessa alma, a psique corporal era uma parte e função menor, voltada ao meio material e social tão-somente, alheia a todo senso do eterno e, a rigor, incapaz de pecado ou santidade, apenas de delitos e virtudes socialmente reconhecidos. A partir do momento em que a psique corporal foi assumida como realidade autônoma, cada indivíduo só se enxerga a si mesmo como membro de uma espécie animal e como “cidadão”, amputado daquela dimensão que fundamenta o senso último de responsabilidade e cultivando, em lugar dele, o mero instinto da adequação social, adornado ou não de “moral religiosa”. Imaginem a diferença que isso faz, por exemplo, na compreensão que você tem da Bíblia: se você não a lê com sua alma imortal, talvez fosse melhor não lê-la de maneira alguma, porque a lê com a carne e não com o espírito.
Esse estado é implantado nas almas pela tremenda pressão anônima da coletividade, que as mantém em estado de atrofia espiritual mediante a ameaça do escárnio e o temor – imaginário, mas nem por isso menos eficiente – da exclusão. Infinitamente multiplicado e potencializado pelo sistema educacional e pela a mídia , o que um dia foi mera idéia filosófica, ou pseudofilosófica, incorpora-se nas personalidades individuais como reflexo de autodefesa e, na mesma medida, restringe a autopercepção de cada qual ao mínimo necessário para o desempenho nas tarefas imediatas da vida socio-econômica. É tudo uma profecia auto-realizável: se a evidência avassaladora da percepção extracorporal é negada, não é só porque as pessoas não acreditam nela – é porque se tornaram realmente incapazes de vivenciá-la de maneira consciente. Vivem alienadas da sua experiência psíquica mais profunda e constante, encerradas num círculo de banalidades no qual o triunfalismo “cultural” e “científico” da mídia popular infunde uma ilusão de riqueza e variedade.
O “mundo real” no qual essas pessoas acreditam viver é o dualismo galilaico-cartesiano, já totalmente desmoralizado pela física de Einstein e Planck, mas que a mídia e o sistema escolar continuam impondo à alma das multidões como verdade definitiva: tudo o que existe nesse mundo são as “coisas físicas” e, em cima delas, o “pensamento humano”, as “criações culturais”. De um lado, a realidade dura da matéria regida por leis supostamente inflexíveis, nas quais se fundamenta a autoridade universal e inquestionável da “ciência”; de outro, a pasta mole e dúctil do “subjetivo”, do arbitrário, onde toda opinião vale o mesmo. Dessa esfera “subjetiva” faz parte a “religião”, que é o direito de crer no que bem se entenda, com a condição de não proclamá-lo jamais verdade objetiva ou valor universal.
Nessas condições, o próprio exercício da religião torna-se uma caricatura grotesca. Tanto quanto o ateu, o homem religioso de hoje em dia acredita piamente na existência de uma esfera material autônoma, regida por leis próprias que a ciência enuncia, só de vez em quando rompidas pela interferência do “milagre”, do “inexplicável”, do “divino”. Por mais que a filosofia esculhambe com o “Deus dos hiatos” (aquele que só age por entre as brechas do conhecimento científico), ele é o único que restou no altar das multidões de crentes. Oficializada pelo establishment governamental, universitário e midiático, a rígida separação kantiana de “conhecimento” e “fé” tornou-se verdade de evangelho para a maioria das almas religiosas, embora ela seja, em si, perfeitamente herética à luz da doutrina católica, interpondo um abismo infranqueável entre dimensões cuja interpenetração, ao contrário, é a própria essência da concepção cristã do cosmos. É novamente a profecia auto-realizável em ação: à percepção mutilada do eu individual corresponde uma religião mutilada, e vice-versa.
Quando digo percepção mutilada, estou afirmando, taxativamente, que a imagem do eu como algo que reside no corpo ou se identifica com ele é fantástica, ilusória, doente. Ela impõe à consciência limitações que não são de maneira alguma naturais, muito menos necessárias. Todas as tradições espirituais do mundo, todas as disciplinas sapienciais começam pela constatação óbvia de que o eu não é o corpo, não “está” no corpo mas de certo modo o abrange como o supra-espacial transcende e abrange o espacial (este é balizado por certas relações matemáticas que, em si, não estão em parte alguma do espaço). Mas uma coisa é compreender isso por pura lógica, outra bem melhor é poder constatá-lo no fato vivo da percepção extra-sensorial em casos de morte clínica. Bastaria, a rigor, um único episódio desse tipo para dar por terra com a balela de que o cérebro, isto é, o corpo, “cria” a cognição, o pensamento, a consciência. Mas os episódios são milhares, e o desinteresse dos crentes por esse tipo de fenômenos (mais estudados por ateus, adeptos da New Age e budistas do que por católicos, protestantes, ou mesmo judeus crentes) denota que a mente religiosa já se conformou com um estado de existência diminuída, em que a alma supracorporal, condição fundamental do acesso a Deus, só passará a existir no outro mundo, por alguma transmutação mágica da psique corporal, em vez de constituir já nesta vida a nossa realidade pessoal mais concreta, mais substantiva e mais verdadeira, presente e atuante nos nossos atos mais mínimos como nas nossas vivências mais elevadas e sublimes.
Durante milênios cada ser humano, ao pronunciar a palavra “eu”, referia-se de maneira imediata e automática à sua alma imortal, a única que podia orar e responder por seus próprios atos ante o altar da divindade. Dessa alma, a psique corporal era uma parte e função menor, voltada ao meio material e social tão-somente, alheia a todo senso do eterno e, a rigor, incapaz de pecado ou santidade, apenas de delitos e virtudes socialmente reconhecidos. A partir do momento em que a psique corporal foi assumida como realidade autônoma, cada indivíduo só se enxerga a si mesmo como membro de uma espécie animal e como “cidadão”, amputado daquela dimensão que fundamenta o senso último de responsabilidade e cultivando, em lugar dele, o mero instinto da adequação social, adornado ou não de “moral religiosa”. Imaginem a diferença que isso faz, por exemplo, na compreensão que você tem da Bíblia: se você não a lê com sua alma imortal, talvez fosse melhor não lê-la de maneira alguma, porque a lê com a carne e não com o espírito.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Romance e vida
A literatura, a escrita de ordem poética e romântica, mais no romance que na própria poesia, como sempre foi mais na prosa que nos versos, é a linguagem mais complexa que temos para descrever, pensar e elaborar realidades complexas. A linguagem tratadística e científica não poderia dar conta, por exemplo, de elaborar sobre a complexidade da vida humana de um indivíduo que seja. Nem mesmo um romance que o descreva poderia dar conta de uma realidade tão complexa quanto uma vida humana - mas já aqui podemos aspirar a alguma melhor aproximação. O romance é a linguagem mais elevada da experiência humana, e ler romances deveria ser a primeira obrigação moral de todo indivíduo. Mas há alguém hoje que tenha ouvidos para ouvir obrigações morais? Não somos a geração crescida sob os influxos da "liberdade" existencialista vivenciada como libertinagem por Woodstock? Não somos bem mais sensíveis a ouvir a vós que prega um homem "além do bem e do mal", sem moral e quaisquer outras formas de tolhimento? Abandonamos a linguagem a um só tempo concreta e universal da literatura pelo abstratismo das ciências e espiritualidades modernas, e perdemos com isso aquela mesma elevação que o homem comum observava no cair de uma folha. Hoje já não vemos mais folhas caírem como antigamente.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Homem mercadoria
Ao ser perguntado que natureza encontrou nos homens em todos os lugares, o viajante que viu muitos países e povos e vários continentes respondeu: eles têm uma propensão à preguiça. Alguns acharão que ele teria respondido com mais justeza e razão: todos são timoratos. Eles se escondem atrás de costumes e opiniões. No fundo, todo homem sabe muito bem que não vive no mundo senão uma vez, na condição de único, e que nenhum acaso, por mais estranho que seja, combinará pela segunda vez uma multiplicidade tão diversa neste todo único que se é: ele o sabe, mas esconde isso como se tivesse um remorso na consciência - por quê? Por medo do próximo que exige esta convenção e nela se oculta. Mas o que obriga o indivíduo a temer o seu vizinho, a pensar e a agir como animal de rebanho e não se alegrar consigo próprio? Em alguns muito raros, talvez o pudor. Mas na maioria dos indivíduos, é a indolência, o comodismo, em suma, esta propensão à preguiça da qual falava o viajante. Ele tem razão: os homens são ainda mais preguiçosos do que timoratos e temem antes de tudo os aborrecimentos que lhes seriam impostos por uma honestidade e uma nudez absolutas. Somente os artistas detestam este andar negligente, com passos contados, com modos emprestados e opiniões postiças, e revelam o segredo, a má-consciência de cada um, o princípio segundo o qual todo homem é um milagre irrepetível; somente eles se atrevem nos mostrar o homem tal como ele propriamente é, e tal como ele é único e original em cada movimento dos seus músculos, e mais ainda, que ele é belo e digno de toda consideração segundo a estrita coerência da sua unicidade, que ele é novo e incrível como todas as obras da natureza e de maneira nenhuma tedioso. Quando o grande pensador despreza os homens, é a preguiça destes que ele despreza, pois é ela que dá a eles o comportamento indiferente das mercadorias fabricadas em série, indignas de contato e ensino. O homem que não quer pertencer à massa só precisa deixar de ser indulgente consigo mesmo; que ele siga a sua consciência que lhe grita: "Sê tu mesmo! Tu não és isto que agora fazes, pensas e desejas".
By Nietzsche, in Schopenhauer Educador (tradução N. C. de M. Sobrinho, ed. Loyola)
Religare, Religere, Relegere
As religiões, se observadas em sua multiplicidade, ilustram aspectos propriamente humanos na relação que estabelecem com Deus, e neste sentido ilustram possibilidades de vida humana. Quero dizer, cada religião é uma realização de certa possibilidade humana em criar um vínculo de ligação com o Soberano, o Ser Supremo, e na medida em que realizam esta possibilidade, conferem aos homens um determinado tipo de existência a ser vivida, que diga respeito às concepções acerca do divino. Para nós, homens modernos, que nos situamos como que na defensiva, numa espécie de desconfiança com relação às experiências religiosas que por nós são observadas a partir de uma perspectiva histórica e psicológica - nós, homens modernos, quase que "científicos" no pior sentido do termo, no sentido que hoje se utiliza para nomear uma classe que nada faz senão particionar a realidade em busca de "verdades mercantilizáveis": sim, nós homens científicos estamos em grande parte alimentando uma defesa, louvada por ser "racional", também esta no pior sentido, contra o engano religioso, e nos privamos de nos beneficiarmos de uma relação, de um religare com o Ser Supremo seja por que caminho nos diga melhor, nos pareça melhor. As religiões são modos de os homens perceberem os muitos caminhos que se pode trilhar até Deus, e talvez, caminhos que Deus trilhou até nós. Cada religião potencializa um tipo de vida em contato com o divino. Mas o que somos nós, modernos, sem um caminho? Se a modernidade se exalta por ceder à razão, não há como não trilhar um caminho por uma negação de que Deus não existe. A crença em Deus não é objeto de fé, mas de razão, e todo aquele que acha poder afirmar a inexistência de Deus racionalmente padece do mal de que anseia livrar-se. A razão nos mostra Deus, de maneira que o homem moderno, por achar que não cede a uma crença pela liberdade que lhe dá a razão, vê-se perdido ao afirmar, pelo uso da razão e da liberdade, aquela mesma crença que pensou negada racional e livremente. Não há outro caminho, e isto quer dizer: devemos encontrar o nosso caminho. As grandes religiões da humanidade nos dão as possibilidades: religar, reler, reeleger.
Assinar:
Postagens (Atom)