Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Romance e vida


A literatura, a escrita de ordem poética e romântica, mais no romance que na própria poesia, como sempre foi mais na prosa que nos versos, é a linguagem mais complexa que temos para descrever, pensar e elaborar realidades complexas. A linguagem tratadística e científica não poderia dar conta, por exemplo, de elaborar sobre a complexidade da vida humana de um indivíduo que seja. Nem mesmo um romance que o descreva poderia dar conta de uma realidade tão complexa quanto uma vida humana - mas já aqui podemos aspirar a alguma melhor aproximação. O romance é a linguagem mais elevada da experiência humana, e ler romances deveria ser a primeira obrigação moral de todo indivíduo. Mas há alguém hoje que tenha ouvidos para ouvir obrigações morais? Não somos a geração crescida sob os influxos da "liberdade" existencialista vivenciada como libertinagem por Woodstock? Não somos bem mais sensíveis a ouvir a vós que prega um homem "além do bem e do mal", sem moral e quaisquer outras formas de tolhimento? Abandonamos a linguagem a um só tempo concreta e universal da literatura pelo abstratismo das ciências e espiritualidades modernas, e perdemos com isso aquela mesma elevação que o homem comum observava no cair de uma folha. Hoje já não vemos mais folhas caírem como antigamente.

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