Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O fundamental na vida II


Vivemos, e estar vivo é ser constante e avassaladoramente atravessado por preocupações de toda natureza, por incômodos, angústias que podem se resumir a um sofrimento humano substancial, a um sofrer com as urgências de coisas que sabemos, no mais íntimo, serem fúteis, pueris, etéreas, e ainda assim desejá-las, não se sabe bem por quê. E qual não seria o propósito de todas essas preocupações dispersantes senão uma capacidade de focar, uma atenção integrante, que nos faz perpassar o sofrimento da vida com a fina certeza de sermos algo, sermos alguém que sofre? A atenção é a atividade humana mais digna, mais elevada, e por isso mais difícil - khalepós tà kalá: difíceis (são) as coisas belas, como diziam os gregos. Ter ciência da prioridade de um comportamento atencional, não disperso em meio às preocupações, e realizá-lo pode se traduzir no caminho que nos conduz até o nosso Eu imortal.

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