Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Religare, Religere, Relegere


As religiões, se observadas em sua multiplicidade, ilustram aspectos propriamente humanos na relação que estabelecem com Deus, e neste sentido ilustram possibilidades de vida humana. Quero dizer, cada religião é uma realização de certa possibilidade humana em criar um vínculo de ligação com o Soberano, o Ser Supremo, e na medida em que realizam esta possibilidade, conferem aos homens um determinado tipo de existência a ser vivida, que diga respeito às concepções acerca do divino. Para nós, homens modernos, que nos situamos como que na defensiva, numa espécie de desconfiança com relação às experiências religiosas que por nós são observadas a partir de uma perspectiva histórica e psicológica - nós, homens modernos, quase que "científicos" no pior sentido do termo, no sentido que hoje se utiliza para nomear uma classe que nada faz senão particionar a realidade em busca de "verdades mercantilizáveis": sim, nós homens científicos estamos em grande parte alimentando uma defesa, louvada por ser "racional", também esta no pior sentido, contra o engano religioso, e nos privamos de nos beneficiarmos de uma relação, de um religare com o Ser Supremo seja por que caminho nos diga melhor, nos pareça melhor. As religiões são modos de os homens perceberem os muitos caminhos que se pode trilhar até Deus, e talvez, caminhos que Deus trilhou até nós. Cada religião potencializa um tipo de vida em contato com o divino. Mas o que somos nós, modernos, sem um caminho? Se a modernidade se exalta por ceder à razão, não há como não trilhar um caminho por uma negação de que Deus não existe. A crença em Deus não é objeto de fé, mas de razão, e todo aquele que acha poder afirmar a inexistência de Deus racionalmente padece do mal de que anseia livrar-se. A razão nos mostra Deus, de maneira que o homem moderno, por achar que não cede a uma crença pela liberdade que lhe dá a razão, vê-se perdido ao afirmar, pelo uso da razão e da liberdade, aquela mesma crença que pensou negada racional e livremente. Não há outro caminho, e isto quer dizer: devemos encontrar o nosso caminho. As grandes religiões da humanidade nos dão as possibilidades: religar, reler, reeleger.

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