O que difere homens de animais, grosso modo, é a necessidade que temos de simbolizar. Um símbolo é sensivelmente diferente de um signo: animais também parecem possuir uma capacidade de relacionar fatos e suas repetições a um esquema que lhes significa algo, sempre a partir da experiência obtida por tentativa e erro. Ao homem, porém, não é suficiente apenas olhar o chão molhado e perceber a probabilidade de haver chovido, ou observar os frutos de uma árvore e lhes identificar a madureza ou não. A linguagem humana não tece suas palavras apenas como signo, com o intuito de indicar as coisas que elas denotam, a chuva ou a fruta, mas abarca ainda uma exigência de poder igualmente representá-las, quer dizer, de lhes conferir uma função conotativa. Toda experiência humana do mundo pode corresponder a essa exigência, em tornar-se no fim um símbolo. Prova disso são o fenômeno religioso, em sua estrutura mitológica e ritualística, e o artístico, que tiram o cotidiano de sua banalidade existencial, bem como a função de sonhar que o cérebro executa durante o sono. O sonho, na verdade, parece ser o mais fundamental dos fenômenos descritos: no fundo, tanto a arte quanto a religião podem ser entendidos como fenômenos a ele imbricados. E no sonho percebemos um uso da linguagem ausente de qualquer interesse basicamente denotativo, que se mantém na vigília como o mecanismo mais prático no uso da língua, para oferecer entre palavras, ideias e coisas uma estrutura que não pode ser tida senão como simbólica. Negá-la como essencialmente humana é negar aquilo que nos faz ser quem somos. O homem sem o apreço e um constante desenvolvimento de sua capacidade simbólica acaba encerrado no que lhe compete de mais animalesco e bárbaro. A desumanização, que sempre é possível identificar em épocas históricas diversas e a qual o homem está inevitavelmente sujeito, dá-se exatamente pela perda da capacidade de sonhar as próprias vivências em toda a sua desejável simbologia.
Pintura de
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