O que é o silêncio? Talvez seja a ausência completa de som – mas não seria ele mesmo um som, uma força sonora, um impulso toante? Porque sendo pura ausência de sons, o silêncio nos leva a um mergulho no nada auditivo, no vazio auscultado, na imensidão de uma sonoridade inexistente, como quando ouvimos uma canção e nos apercebemos de seu fim quando aquela harmonia entre palavras e notas se desfaz para sempre em um vazio profundo. Insisto, contudo – não poderia mesmo este desfazer-se da sonoridade das notas e da voz uma força própria de toda canção? Não haveria no silêncio uma sensação de prazer sonoro que pervade as mais fortes e os mais destoantes graus de notas musicais?
Eis que a música melhor demonstra o que as palavras não conseguem pronunciar – e a música de Beethoven nos eleva ao cume da sonoridade e da grandeza musical pelo prazer sonoro composto em sintonia sinfônica com o silêncio, em harmonia com essa força nula e toante, porque real, existente, viva! Sua nona sinfonia é gerada pelo silêncio. No silêncio de sua audição, sua mente alcança as mais brilhantes notas e sons que a música humana pôde algum dia alcançar – o músico faz mesmo surgir pela força sonora do silêncio, faz mesmo vibrar de sua existência e de seu ser a mais divina harmonia, a mais genial das sinfonias – a mais humana das criações! Ouvir esta que é a maior de todas as canções e de todos os sons compostos é ser capaz de auscultar o silêncio por trás da música, e apreender o que há de mais real e vivo na força silenciosa do mundo – E aquele que não se pôs ainda diante de tão divino som não pode dizer que é capaz de escutar: porque é preciso ouvir o silêncio se quiser algum dia auscultar a música que compõe o homem e o universo.
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2 comentários:
Só posso permanecer no silencio diante de tanta beleza...
Mas não deixe de temperar seu silêncio com doses dedicadas de palavras tão belas quanto as que você me rendeu...
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