Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

sábado, 15 de novembro de 2008

A música do silêncio

O que é o silêncio? Talvez seja a ausência completa de som – mas não seria ele mesmo um som, uma força sonora, um impulso toante? Porque sendo pura ausência de sons, o silêncio nos leva a um mergulho no nada auditivo, no vazio auscultado, na imensidão de uma sonoridade inexistente, como quando ouvimos uma canção e nos apercebemos de seu fim quando aquela harmonia entre palavras e notas se desfaz para sempre em um vazio profundo. Insisto, contudo – não poderia mesmo este desfazer-se da sonoridade das notas e da voz uma força própria de toda canção? Não haveria no silêncio uma sensação de prazer sonoro que pervade as mais fortes e os mais destoantes graus de notas musicais?




Eis que a música melhor demonstra o que as palavras não conseguem pronunciar – e a música de Beethoven nos eleva ao cume da sonoridade e da grandeza musical pelo prazer sonoro composto em sintonia sinfônica com o silêncio, em harmonia com essa força nula e toante, porque real, existente, viva! Sua nona sinfonia é gerada pelo silêncio. No silêncio de sua audição, sua mente alcança as mais brilhantes notas e sons que a música humana pôde algum dia alcançar – o músico faz mesmo surgir pela força sonora do silêncio, faz mesmo vibrar de sua existência e de seu ser a mais divina harmonia, a mais genial das sinfonias – a mais humana das criações! Ouvir esta que é a maior de todas as canções e de todos os sons compostos é ser capaz de auscultar o silêncio por trás da música, e apreender o que há de mais real e vivo na força silenciosa do mundo – E aquele que não se pôs ainda diante de tão divino som não pode dizer que é capaz de escutar: porque é preciso ouvir o silêncio se quiser algum dia auscultar a música que compõe o homem e o universo.

http://www.4shared.com/file/67416318/c42e862c/Beethoven_Op125_Furtwangler1951.html

2 comentários:

Anônimo disse...

Só posso permanecer no silencio diante de tanta beleza...

Mathias de Alencar disse...

Mas não deixe de temperar seu silêncio com doses dedicadas de palavras tão belas quanto as que você me rendeu...