Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O bom homem mau


Quando alguém chegou e disse "este pedaço de terra é meu!" iniciou-se então o processo de desigualdade entre os homens. Mas o bom selvagem de Rousseau tinha um problema - ele era bom por natureza. Alguém em nosso tempo poderia ainda acreditar que o homem seja bom por natureza? Ou antes - há alguma bondade ou maldade na natureza, deixada ela mesma em seu próprio desenrolar-se? Somos nós quem criamos o bom e o mau, nós nos tornamos devotados a um padrão de comportamento ao qual nos referimos. Nós criamos o homem - criamos a nós mesmos. E não haveria em tudo isso siginificativa 'maldade'? Ao contrário! O ato de modificarmos nossa natureza faz parte, como tendência inalienável, de nossa própria natureza. Somos algo entre as bestas e os deuses. Somos intermediários, indefinidos porque em constante definição de si, inconstantes porque em constante afirmação do que não pode se eternizar. E então se diria - isso tudo é bom, mau, ruim? Não há valoração na natureza. Somos isso - e nada além disso. Talvez esta certeza nos ajude a entender melhor para onde caminhamos. Talvez essa certeza não nos ajude em nada, e provoque em muitos um profundo niilismo incurável. Mas não podemos abrir mão da certeza. Afinal, ter certezas faz parte da nossa natureza humana, demasiadamente humana.

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