Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A lua e a mulher

Que afinidades especiais pareciam existir entre a lua e a mulher?

Sua antiguidade em preceder e sobreviver a sucessivas gerações telúricas: sua predominância noturna: sua dependência satélica: seu reflexo luminar: sua constância sobre todas as fases, erguendo-se e pondo-se em suas horas indicadas, ficando cheia e sumindo: a invariabilidade forçada de seu aspecto: sua resposta indeterminada à interrogação inafirmativa: sua força sobre as águas efluentes e refluentes: seu poder de enamorar, mortificar, investir com beleza, tornar insano, incitar e auxiliar a delinqüência: a inescrutabilidade tranquila de seu rosto: a terribilidade de sua isolada dominante implacável resplendente propinqüidade: seus presságios de tempestade e calmaria: a estimulação de sua luz, seu movimento e sua presença: a advertência de suas crateras, de seus mares áridos, de seu silêncio: seu esplendor, quando visível: sua atração, quando invisível.

Ulisses, by James Joyce - Tradução de Bernardina da Silveira Pinheiro, 2005.

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