Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

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A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Conversa sobre Deus

Tudo o que tenho, foi Deus quem me deu! - Disse ela.
Talvez ela concorde também que tudo que ela não tem foi Deus que não lha deu; e portanto, que vem de Deus tanto a riqueza quanto a pobreza, e depende dele tudo que temos e não temos - Mas já aí ela talvez perceberia que o caráter desse Deus não condiz com a bondade que ele professa, tornando absurdo o fato de ele ser considerado como aquele que sustenta a justiça. Seria justo que a ela fosse dado e a outro não, ou ao contrário? Que critério de preferência pode ter um Deus que julga a todos igualmente? Pelos méritos? Que méritos, se tudo que ela tem foi Deus que lhe deu? Não poderia ser que ela tivesse conquistado o que hoje ela tem, porque tudo vem de Deus, de modo que aquilo que ela possui é resultado da vontade de Deus em abençoá-la. Mas qual o critério de seleção para ser abençoado? - A vontade de Deus, ela ouve dizer. Seria essa vontade mero gosto, decorrente de uma predileção qualquer? Ela responde a si mesma - Decorre das nossas boas ações... Então, tudo que fazemos, se são boas ações, provocam a graça ou a desgraça. Exato, a culpa é nossa! Mas isso mostra que não somos de modo algum iguais uns aos outros, e que decorre justamente desta diferença o critério de Deus em agraciar ou desgraçar alguém. Mas aqueles que são ruins, ou bons, não o são devido a sua natureza? E se alguém nasce ruim, é justo desgraçar aquele que já é por existir desgraçado? - Mas as pessoas não nascem ruins ou boas, tornam-se ruins ou boas, disse ela ainda. Então elas nasceriam iguais? Mas se elas nascem iguais, o que é igual não tem as mesmas oportunidades? E isso é justiça! Mas como dar as mesmas oportunidades a uns que são bons e a outros que são maus? Se a mim que faço o bem são dadas as mesmas oportunidades que àqueles que fazem o mal, que justiça há nisso? - A justiça virá pela recompensa! Exclamou ela - Aos que fazem o bem, riqueza; aos que fazem o mal, pobreza. Oh, que maravilhosa filosofia! Mas me diga ainda, segundo sua crença, todos os ricos são bons e todos os pobres são maus, não é assim? Porque a mim me parece por vezes que se dá exatamente o contrário! Mas como, não é Deus que controla tudo aquilo que temos ou não temos? Não é ele que nos dá tal oferta? Como ele daria riqueza ao que não lhe faz o bem? Não te parece que tudo isso o faz um Deus na verdade injusto?
E ela emudeceu, e foi-se.

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