Todo receio é sempre válido quando se está diante de qualquer tentativa de transpor para imagens as preciosas letras de um gênio da literatura. Mas Machado de Assis não nos legou apenas uma obra-prima, fruto profícuo de sua genialidade: ele inseriu, já a partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas, seu nome - e junto a ele toda a literatura brasileira - no elevado panteão das letras mais valorosas de toda história da humanidade. Talvez por esse "pequeno" motivo, o receio de acompanhar o trabalho de Luiz Fernando Carvalho tenha sido justificado; embora o resultado que se pôde observar na noite de ontem tenha desfeito qualquer temor mais histérico. A aposta magnífica do diretor em jovens atores; a fantástica performance de Michel Melamed, que sem dúvida apenas testificou aos nossos olhos a qualidade ímpar de sua interpretação; e a indescritível personificação daquela que é a mais impressionante personagem de nossa literatura: a jovem Letícia Persiles parece fazer brotar de seu rosto a mesma perversa e apaixonante aparência de nossa imaginada Capitu - tudo isso é de provocar a alma!
Imagens, sons, vozes: difícil para o espírito manter-se quieto frente à tamanha grandeza estética. Se Hoje é dia de Maria, do mesmo diretor, pareceu não agradar tanto pela estranheza provocada por sua arte, é impossível não sentir em Capitu as próprias letras machadianas soarem como a mais genial de nossas melodias.
Um comentário:
Comentário, postado em 13.12.08, ao artigo 'Capitu é inovação ou clichê?', de Paulo Roberto Pires, no site da Bravo - como resposta à crítica feita contra esta peça inovadora de nossa televisão.
Cesar de Alencar
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