Por que estas pulsões ocêanicas?

Pois é verdade que se eu não havia sequer pensado sobre uma metáfora que ilustrasse com precisão poética e elegância filosófica - sim, com precisão poética e elegância filosófica! - aquilo que encontro frente ao espelho, este reflexo que se produz em minha consciência: ao pensar na força do mar, no impacto voraz das ondas sobre as rochas, no ímpeto por vezes desmedido e incontido de uma pulsão marítima, oceânica, encontro nessa visão a pintura natural de minha própria natureza. E talvez só me falte descobrir onde o pintor escondeu seus pincéis... Mas para quê? Não há em tudo isso significativa - perfeição?

***

A poesia é a capacidade de condensar em belos versos a riqueza experiencial de nossas impressões. Ela é a mais elevada forma de arte literária - na verdade, literatura só é arte se participa intrinsecamente da poesia.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Uma última lascividade, do ano



Senti meu corpo no toque
na pele teu corpo, amor
paixão que arde em brasa
lago de fogo e de dor.


Já não me vejo, me encontro
seios me cegam à noite
pousada de minha loucura
ternura - afago - açoite.


Tropeço e caio, pálido
intenso suor de inverno,
se bebo do cálice, morro
prazer de amar no inferno.
todo furacão tem nome de mulher.
ou deveria.
não que os homens não sejam destrutivos. são.
é que homens destrutivos são tornados. giram cegos em torno de eixo estreito, e pulam em cima de você aleatórios, e fora de órbita e sem causa, chovendo detritos pontiagudos colecionados de outras partes. algumas mulheres também são assim. mas só mulheres de cimento são assim.
já um furacão pertence ao mar.

By Renata Azzi

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A despedida


Ao menos o ano termina...

Queria que realmente terminasse, embora tantas coisas interessantes tenham desabrochado, uma flor, ou muitas flores, que perfazem a triste paisagem dos meus dias - Dias passados, porque o novo ano, a nova hora, o ponteiro pontua que já não resta muito, que precisamos seguir... Essa esperança que o calendário nos traz, que o ponteiro pontualmente faz ressoar! De algum modo, quisera poder dizer - A festa está apenas começando... Vejo as bebidas, as mulheres, as flores em novidade desabrocharem, uma primavera de cor, conheço de cor:

Nada muda e o novo é somente o antigo galho verde seco e murcho que insiste em fazer florir o jardim da vida.

Mas vejo mais flores, mais bebidas, vejo o dia amanhecer em paz - e nada pode de novo ser igual a este velho verde seco ano de triste paisagem. A esperança do novo de novo nos engana, pois no fundo não há engano maior que a certeza completa que somente existe nesta nova primavera, no horizonte radiante...

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Visita cordial


Se brasileiro que é brasileiro não se deixa enganar por um sorriso cordial de quem pouco ou quase nada conhece, no caso da primeira-dama francesa, parece, nos rendemos a tentação. A causa de tudo isso, há de se confessar, se encontra na beleza que a senhora linda e gostosa - com todo o respeito, claro! - Carla Bruni veio nos mostrar essa semana, enquanto o marido faz as vezes da chatice diplomática e dos acordos bilaterais entre os dois países. De fato, a agenda paralela da cantora-mais-importante-da-França corre pelas vielas cariocas - sempre cercada de poderosos deslumbrados, paparazzis pentelhos e cariocas a fim de uma olhadela na "poupança" da primeira-dama - como ela mesma fez correr de nossas bocas as salivas que se esvaem quando contemplamos tamanha graciosidade. Sem dúvidas, não podemos negar - A tal da francesa fascinou-nos a todos. O que é natural para o espírito carioca, que sempre teve os olhos voltados para as terras mais quentes da Europa! No mau sentido, veja lá...

Uma conversa de trabalho


- Tem tudo que morrer, essa cambada de safado!

- Quem, os de Brasília?

- Não, os daqui mesmo. Esses vagabundos de morro que só fazem matar sem motivo algum.

- Ah, o pessoal do tráfico...

- E quem paga somos nós, trabalhadores.

- Não sei se tem mais solução...

- Manda matar todo mundo, meu irmão! Essa é a solução!

- Muito radical...

- Mas é o jeito, bicho. Antes que eles matem a gente a gente mata eles! Todos, sem deixar nenhum!

- E os Direitos Humanos? Não pode ser assim...

- Mata os Direitos Humanos também!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Declaração Universal dos Direitos Humanos

Dedicado a comemorar os 60 anos de sua promulgação
Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que todos gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum;
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão;
Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações;
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla;
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades humanas fundamentais e a observância desses direitos e liberdades;
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso;
agora portanto,
A Assembléia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos
como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição:
Artigo I.Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
Artigo II.1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
Artigo III.Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo IV.Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.
Artigo V.Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
Artigo VI.Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.
Artigo VII.Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo VIII.Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.
Artigo IX.Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo X.Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Artigo XI.1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Artigo XII.Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em seu lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Artigo XIII.1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.
Artigo XIV.1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XV.1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade.2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.
Artigo XVI.1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.
Artigo XVII.1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo XVIII.Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particular.
Artigo XIX.Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
Artigo XX.1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo XXI.1. Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.
Artigo XXII.Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.
Artigo XXIII.1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.
Artigo XXIV.Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.
Artigo XXV.1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.
Artigo XXVI.1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.
Artigo XXVII.1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.
Artigo XXVIII.Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.
Artigo XXIX.1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XXX.Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

sábado, 13 de dezembro de 2008


E agora
em continentes muito afastados
os pensamentos amam e se afogam
em marés de águas paradas.
-
By João Cabral de Melo Neto.

Oceanic Thoughts


- Esta noite pensava em você...

- E o que acumulou em sua mente?

- A notícia terrível de uma terrível tempestade...

- Eu soube.

- E as águas me empurravam à margem da vida, para levar-me a ver o fim do prazer de sentir.

- Então partir já não posso!

- Quando olhei avistei o mar, e as ondas que tocaram meus lábios revelaram-me...

- Oh, fale-me sem temor!

- O amor nada pode ser sem a beijar.

- Desejo de sua boca um beijo de prazer...

- À boca, somente os seios podem satisfazer...

- Entrego tudo por uma noite em seu pensar!

- Pois neste dia alcanço a praia.

- Fale-me o que seu corpo quer dizer.

- O que quero ter na verdade?

- Não percebo o que intenta...

- O falo deseja o ralo que o prenda.

- Oh, que terrível tempestade!

Mais terrível dos silêncios



Silêncio de vozes
Só ouço pássaros lá fora
e nada escuto em mim;
Eu mesmo nada falo que possa ouvir
não há som, voz, imagem.
Apenas esse mais terrível silêncio...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Capitu



Todo receio é sempre válido quando se está diante de qualquer tentativa de transpor para imagens as preciosas letras de um gênio da literatura. Mas Machado de Assis não nos legou apenas uma obra-prima, fruto profícuo de sua genialidade: ele inseriu, já a partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas, seu nome - e junto a ele toda a literatura brasileira - no elevado panteão das letras mais valorosas de toda história da humanidade. Talvez por esse "pequeno" motivo, o receio de acompanhar o trabalho de Luiz Fernando Carvalho tenha sido justificado; embora o resultado que se pôde observar na noite de ontem tenha desfeito qualquer temor mais histérico. A aposta magnífica do diretor em jovens atores; a fantástica performance de Michel Melamed, que sem dúvida apenas testificou aos nossos olhos a qualidade ímpar de sua interpretação; e a indescritível personificação daquela que é a mais impressionante personagem de nossa literatura: a jovem Letícia Persiles parece fazer brotar de seu rosto a mesma perversa e apaixonante aparência de nossa imaginada Capitu - tudo isso é de provocar a alma!

Imagens, sons, vozes: difícil para o espírito manter-se quieto frente à tamanha grandeza estética. Se Hoje é dia de Maria, do mesmo diretor, pareceu não agradar tanto pela estranheza provocada por sua arte, é impossível não sentir em Capitu as próprias letras machadianas soarem como a mais genial de nossas melodias.

Black hole confirmed in Milky Way


By Pallab Ghosh Science correspondent, BBC News

The Milky Way was tracked from an observatory in Chile
There is a giant black hole at the centre of our galaxy, a study has confirmed.
German astronomers tracked the movement of 28 stars circling the centre of the Milky Way, using two telescopes in Chile.
The black hole is four million times more massive than our Sun, according to the paper in The Astrophysical Journal.
Black holes are objects whose gravity is so great that nothing - including light - can escape them.
According to Dr Robert Massey, of the Royal Astronomical Society (RAS), the results suggest that galaxies form around giant black holes in the way that a pearl forms around grit.
'The black pearl'
Dr Massey said: "Although we think of black holes as somehow threatening, in the sense that if you get too close to one you are in trouble, they may have had a role in helping galaxies to form - not just our own, but all galaxies.
The most spectacular aspect of our 16-year study, is that it has delivered what is now considered to be the best empirical evidence that super-massive black holes do exist
Professor Reinhard GenzelHead of the research team
"They had a role in bringing matter together and if you had a high enough density of matter then you have the conditions in which stars could form.
"Thus the first generation of stars and galaxies could have come into existence".
The researchers from the Max Planck Institute for Extraterrestrial Physics in Germany said the black hole was 27,000 light years, or 158 thousand, million, million miles from the Earth.
"Undoubtedly the most spectacular aspect of our 16-year study, is that it has delivered what is now considered to be the best empirical evidence that super-massive black holes do really exist," said Professor Reinhard Genzel, head of the research team.
"The stellar orbits in the galactic centre show that the central mass concentration of four million solar masses must be a black hole, beyond any reasonable doubt."
Observations were made using the 3.5m New Technology Telescope and the 8.2m Very Large Telescope (VLT) in Chile. Both are operated by the European Southern Obsevatory (Eso).

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Afirmação da diferença!


Porque - de algum modo - homens e mulheres são compostos dessemelhantes!! Mas não parece evidente a riqueza que há em ser mulher? De fato, toda complexidade é essencialmente rica, e nada há mais interessante que a riqueza insondável e interminável de uma mulher.
- Comentário a uma conversa com Renata Azzi.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Projeto Porta Curtas - Site Releituras

http://www.releituras.com/portacurtas.asp

Curtas baseados na nossa literatura, com especial destaque para "missa do galo", com Fernanda Montenegro.

Europeana - Vale a pena aguardar

A biblioteca européia digital Europeana, que no dia 20/11 foi aberta ao público, teve de encerrar menos de 24 horas depois, devido à "excessiva popularidade" e só deverá abrir em meados de dezembro, segundo nota no sítio da biblioteca (http://www.europeana.eu/). A diretoria da Europeana, que pretende ser a resposta européia ao Google, conta com livros, mapas, gravações, fotografias, documentos de arquivo, pinturas e filmes do acervo das bibliotecas nacionais e instituições culturais dos 27 Estados-Membros da União Européia. Motivo do encerramento: o trafego chegou aos 20 milhões de cliques por hora, movimento muito superior ao previsto que acabou "derrubando" o sistema.
.
By Arnaldo, in Releituras.

sábado, 6 de dezembro de 2008


Today, I woke up wishing to see the sea
But I found out its sound was sleeping inside of me.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Novo recorde de nosso guia!


Mais uma vez Lula, ou nosso guia que nos guia não sei bem pra onde, acaba de alcançar novo recorde de popularidade - 70% de aprovação, segundo o Datafolha. O que isso significa? Bem, talvez uma predisposição cultural que possuímos de imunizar a figura de um governante de todas as críticas que lhe são cabíveis. Ou talvez seja apenas um brilhante resultado do marketing pessoal, que atrela carisma a discursos futebolísticos e de cunho familiar, quando para ele a crise mundial não passará de uma "marolinha" em terras tupiniquins. Oxalá esteja nosso guia nos guiando para um futuro em mares navegáveis - ou naufragaremos todos!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Espírito Poético


A sensibilidade de meu espírito poético
Perpassa meus sentidos, intensamente
E só fato de escrever vis palavras
Sou pleno de um prazer inconsequente.
Nada mais divino que este ato:
Ainda poder viver eternamente...

Monumento ao jovem em formação



Nas obras de escultura de Margarida Santos cumpre-se a Arte. Porque elas contêm os pressupostos da razão de ser da obra de arte - a entrega total do ser liberto de compromissos, entrega feita de paixão, de sinceridade e de abnegação.
Ao contemplá-las mais demoradamente, não posso deixar de reflectir, pois descubro uma pureza de linguagem nas suas formas e linhas, sentindo que traduzem uma ânsia de regresso (mas não retrocesso) a um espaço sagrado, um encontro de signos transcendentes em que a magia, o fantástico, o desconhecido dum mundo interior, são sintomas dum neo-gnosticismo. Surgem-me, assim, como expressão do inconsciente, de um mundo novo (sagrado) em oposição com o mundo do tecnicismo e da sociedade de consumo (profano).
A artista está perto do limiar do espaço sagrado onde reside o Ego, abrindo a passagem ao inconsciente e às formas puras. Tal como em Moore, Brancusi ou Giacometti, as esculturas de Margarida Santos têm um significado tautogórico, com um sentido místico, como se os objectos se desmaterializassem para se tornarem na emanação de conceitos.

João Coutinho
in: Catálogo "Nu feminino" - 1991

Um retorno

Porque esse tempo afastado das letras, de qualquer publicação aqui no blog, não apenas foi provocado pelas intensas atividades acadêmicas: foi mesmo um reflexo da própria ausência de um olhar voltado para meu próprio interior, para minha alma confusa e absorta. Queria dizer, mas muito do que há não pode ser dito. Queria me calar, mas como calar as pulsões intensas que sufocam até mesmo as palavras? Mas as palavras não permanecem muito tempo em silêncio...

sábado, 22 de novembro de 2008

Como uma onda

Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
*
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo
*
Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
*
By Lulu Santos e Nelson Motta

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Alegoria da Caverna


Depois disto – prossegui eu – imagina a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta, de acordo com a seguinte experiência. Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no género dos tapumes que os homens dos "robertos" colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles.– Estou a ver – disse ele.– Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objectos, que o ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que os transportam, uns falam, outros seguem calados.– Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas – observou ele.– Semelhantes a nós – continuei -. Em primeiro lugar, pensas que, nestas condições, eles tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras projectadas pelo fogo na parede oposta da caverna?– Como não – respondeu ele –, se são forçados a manter a cabeça imóvel toda a vida?– E os objectos transportados? Não se passa o mesmo com eles?– Sem dúvida.– Então, se eles fossem capazes de conversar uns com os outros, não te parece que eles julgariam estar a nomear objectos reais, quando designavam o que viam?– É forçoso.– E se a prisão tivesse também um eco na parede do fundo? Quando algum dos transeuntes falasse, não te parece que eles não julgariam outra coisa, senão que era a voz da sombra que passava?– Por Zeus, que sim!– De qualquer modo – afirmei – pessoas nessas condições não pensavam que a realidade fosse senão a sombra dos objectos.– É absolutamente forçoso – disse ele.– Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, ao fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objectos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objectos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objectos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objectos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam?– Muito mais – afirmou.– Portanto, se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos objectos para os quais podia olhar, e julgaria ainda que estes eram na verdade mais nítidos do que os que lhe mostravam?– Seria assim – disse ele.– E se o arrancassem dali à força e o fizessem subir o caminho rude e íngreme, e não o deixassem fugir antes de o arrastarem até à luz do Sol, não seria natural que ele se doesse e agastasse, por ser assim arrastado, e, depois de chegar à luz, com os olhos deslumbrados, nem sequer pudesse ver nada daquilo que agora dizemos serem os verdadeiros objectos?– Não poderia, de facto, pelo menos de repente.– Precisava de se habituar, julgo eu, se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro lugar, olharia mais facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos homens e dos outros objectos, reflectidas na água, e, por último, para os próprios objectos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há no céu, e o próprio céu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do que se fosse o Sol e o seu brilho de dia.– Pois não!– Finalmente, julgo eu, seria capaz de olhar para o Sol e de o contemplar, não já a sua imagem na água ou em qualquer sítio, mas a ele mesmo, no seu lugar.– Necessariamente.– Depois já compreenderia, acerca do Sol, que é ele que causa as estações e os anos e que tudo dirige no mundo visível, e que é o responsável por tudo aquilo de que eles viam um arremedo.– É evidente que depois chegaria a essas conclusões.– E então? Quando ele se lembrasse da sua primitiva habitação, e do saber que lá possuía, dos seus companheiros de prisão desse tempo, não crês que ele se regozijaria com a mudança e deploraria os outros?– Com certeza.– E as honras e elogios, se alguns tinham então entre si, ou prémios para o que distinguisse com mais agudeza os objectos que passavam e se lembrasse melhor quais os que costumavam passar em primeiro lugar e quais em último, ou os que seguiam juntos, e àquele que dentre eles fosse mais hábil em predizer o que ia acontecer – parece-te que ele teria saudades ou inveja das honrarias e poder que havia entre eles, ou que experimentaria os mesmos sentimentos que em Homero, e seria seu intenso desejo "servir junto de um homem pobre, como servo da gleba", e antes sofrer tudo do que regressar àquelas ilusões e viver daquele modo?– Suponho que seria assim – respondeu – que ele sofreria tudo, de preferência a viver daquela maneira.– Imagina ainda o seguinte – prossegui eu -. Se um homem nessas condições descesse de novo para o seu antigo posto, não teria os olhos cheios de trevas, ao regressar subitamente da luz do Sol?– Com certeza.– E se lhe fosse necessário julgar daquelas sombras em competição com os que tinham estado sempre prisioneiros, no período em que ainda estava ofuscado, antes de adaptar a vista – e o tempo de se habituar não seria pouco – acaso não causaria o riso, e não diriam dele que, por ter subido ao mundo superior, estragara a vista, e que não valia a pena tentar a ascensão ? E a quem tentasse soltá-los e conduzi-los até cima, se pudessem agarrá-lo e matá-lo, não o matariam ?– Matariam, sem dúvida – confirmou ele.– Meu caro Gláucon, este quadro – prossegui eu – deve agora aplicar-se a tudo quanto dissemos anteriormente, comparando o mundo visível através dos olhos à caverna da prisão, e a luz da fogueira que lá existia à força do Sol. Quanto à subida ao mundo superior e à visão do que lá se encontra, se a tomares como a ascensão da alma ao mundo inteligível, não iludirás a minha expectativa, já que é teu desejo conhecê-la. O Deus sabe se ela é verdadeira. Pois, segundo entendo, no limite do cognoscível é que se avista, a custo, a ideia do Bem; e, uma vez avistada, compreende-se que ela é para todos a causa de quanto há de justo e belo; que, no mundo visível, foi ela que criou a luz, da qual é senhora; e que, no mundo inteligível, é ela a senhora da verdade e da inteligência, e que é preciso vê-la para se ser sensato na vida particular e pública.


Platão, A República, Livro VII - 5ª edição, 2007. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian

domingo, 16 de novembro de 2008

Tornar-te amada


Inércia de paixões insanas
Dores de um amor sutil
Que na mente são levianas
E que no peito é pueril

Intensidade de um olhar
Que minha pele fere e marca
Voracidade em te beijar -
Crava o beijo como estaca!

Prazer em te possuir
E já não querer mais nada
Seu calor em mim sentir
Por meu amor, tornar-te amada

Aforismos II

Somos um universo imerso em nós mesmos -
E como desejei esta liberdade!

***

Queria ser melhor do que sou,
E descobri que nada é melhor do que ser...

***

Os que pensam, agem com cautela
Os que agem, jamais se deixam abater
Os que se abatem, são vencidos pelo medo.

Monumentos humanos - demasiado humanos

by Raphael


by Michelangelo


by Da Vinci



Fico pensando na riqueza que foi o período renascentista na história humana. Sua riqueza cultural, espiritual, as obras e o vigor humano que fizeram o mundo em que hoje vivemos, moldaram nossas influências, anunciaram um novo mundo - Mas que novo mundo eles traziam senão a grandeza dos gregos? Que haveria de novo a ser erguido depois dos monumentos construídos pelo espírito humano da Antiguidade? A Grécia - devemos a ela e aos antigos nossa condenação, porque é nela que encontramos nossa redenção! Mas perdoem-me se pareço demasiado grego, se minhas palavras soam tão helênicas! - é que sou demasiadamente humano...

sábado, 15 de novembro de 2008

Problema nos olhos...


By Mangabeira

A música do silêncio

O que é o silêncio? Talvez seja a ausência completa de som – mas não seria ele mesmo um som, uma força sonora, um impulso toante? Porque sendo pura ausência de sons, o silêncio nos leva a um mergulho no nada auditivo, no vazio auscultado, na imensidão de uma sonoridade inexistente, como quando ouvimos uma canção e nos apercebemos de seu fim quando aquela harmonia entre palavras e notas se desfaz para sempre em um vazio profundo. Insisto, contudo – não poderia mesmo este desfazer-se da sonoridade das notas e da voz uma força própria de toda canção? Não haveria no silêncio uma sensação de prazer sonoro que pervade as mais fortes e os mais destoantes graus de notas musicais?




Eis que a música melhor demonstra o que as palavras não conseguem pronunciar – e a música de Beethoven nos eleva ao cume da sonoridade e da grandeza musical pelo prazer sonoro composto em sintonia sinfônica com o silêncio, em harmonia com essa força nula e toante, porque real, existente, viva! Sua nona sinfonia é gerada pelo silêncio. No silêncio de sua audição, sua mente alcança as mais brilhantes notas e sons que a música humana pôde algum dia alcançar – o músico faz mesmo surgir pela força sonora do silêncio, faz mesmo vibrar de sua existência e de seu ser a mais divina harmonia, a mais genial das sinfonias – a mais humana das criações! Ouvir esta que é a maior de todas as canções e de todos os sons compostos é ser capaz de auscultar o silêncio por trás da música, e apreender o que há de mais real e vivo na força silenciosa do mundo – E aquele que não se pôs ainda diante de tão divino som não pode dizer que é capaz de escutar: porque é preciso ouvir o silêncio se quiser algum dia auscultar a música que compõe o homem e o universo.

http://www.4shared.com/file/67416318/c42e862c/Beethoven_Op125_Furtwangler1951.html

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Vale a pena


Estou cansado.
Parece que os dias penam ao passar, o tempo pena a passar,
E me fazem aqui dentro igualmente penar.
Mas que pena pagar para viver
Se sofrer já é a pena?
Da penalidade da vida nos livra o mar...

sábado, 8 de novembro de 2008

Para menores de dezoito anos - Proibido?



Aquele rapazote chegou à minha sala com o rosto bastante interessado. Parecia surpreso, mas seu olhar cabisbaixo escondia algo. Era Tímido. Reservado. Era uma doce alma. Uma alma ainda calada. Alma sem versos próprios, porque ainda desconhecido da paixão. Era essa alma doce dos rapazotes que eu adorava. Para tê-la em minhas mãos, para lhes ensinar versos calorosos. Para fruir de sua docilidade intempestiva a fim de marcar meu corpo com sua ânsia de conhecer.

Não acho que meu desejo se torne ainda mais voraz devido à presença dessa doce inocência juvenil. Não é propriamente a inocência dócil, mas a ideia de uma torrente pulsante de instintos, de um emaranhado complexo entre vontade e razão, que de fato me atrai e seduz – este desejo que sinto surge exatamente quando penso que uma alma doce e inocente como a dele se encontra na verdade em si mesma em constante luta contra sua animalidade física, corpórea, numa luta entre corpo e alma: dócil alma, carnalidade voraz.

Quem venceria aquele embate? Na certa, seus pensamentos borbulharam em volúpia ao me ouvir chamá-lo para vir à minha sala após a aula. Aqueles negros olhos que tanto me olhavam enquanto os meus lábios se moviam, na mesma intensidade das grandes poesias, aqueles negros olhos postos em meus lábios enquanto eu recitava Drummond e Pessoa, enquanto eu diversificava os sons para tentar traduzir a beleza versificada de Augusto dos Anjos, ou ainda a ironia de Gullar, pois sim, enquanto eu recitava aqueles versos diversos mas exultantes, seus olhos negros e cobiçosos passeavam pelos meus lábios, acredito tê-los visto descer até o meu decote, deslizando pelo meu corpo como se o calor de seu erotismo me incendiassem à distância. Ele não era como os demais garotos, que sempre correm atrás de outras garotas: ele parecia querer ser mais.

Antes de entrar, ele se deteve na porta. Olhava-me bastante surpreso – Pode entrar, eu disse para ele. Trazia nas costas sua mochila e tinha ainda alguns cadernos na mão. – Venha, chegue mais perto, ponha suas coisas sobre aquela cadeira e sente-se aqui. Era um bom garoto. Fez tudo quanto havia lhe dito, sem tirar em nenhum momento seus olhos de mim. Eu estava sentada em uma cadeira, por trás da minha mesa. Ele sentou-se à minha frente, e disse com a voz um pouco embargada: – Pois não, professora. – Sabe por que te chamei aqui? Indaguei, sugestiva. – Não senhora. Voltei a sugerir algo. – Nem faz alguma ideia? Eu tentava brincar com sua mente. – Não senhora. 

Dava para sentir de longe seu coração acelerado. Ele sequer piscava, como se tentasse indagar a mim mesma, ao meu olhar e aos meus movimentos, o que afinal de contas pretendia com ele. Sorri com o canto dos lábios e me levantei para que ele notasse que a saia preta que antes eu vestia já não cobria mais o meu corpo. Estava com uma lingerie também escura, como a meia calça, o que dava um contraste interessante com a blusa branca e o meu decote. Dirigi-me até a porta e tranquei-a, sempre a olhar para aqueles belos olhos negros. A janela é a porta da alma.

– Eu te chamei aqui porque quero lhe mostrar algo, e sei que você certamente irá gostar muito. Eu havia encostado na porta para que ele tivesse tempo de apreciar cada parte do meu corpo disponível para ele. – Faz ideia do que seja? Ele continuava seguindo-me com seus olhos, apreciando a dança sensual que minhas coxas ofertavam para quem apenas se concentrasse na minha buceta. Era o que ele estava a fazer, e chegou mesmo a se incomodar na cadeira ao perceber que eu estava me despindo bem à sua frente. 

Aproximei-me de onde ele estava, e conforme me aproximava de seus olhos, pude sentir meu corpo se excitar, o coração também acelerado, havia um risco perpétuo se nos pegassem ali sozinhos. Quando estive bem perto, pude ver o seu volume na calça jeans, volume maravilhosamente sugerido em toda a sua potência de vida. Cruzei com as pernas por cima de seu colo e me sentei sobre a mesa, seu rosto ficou logo à minha frente, minha buceta aberta parecia haver enfeitiçado o garoto. – Sabe o que é isso? Ele não mostrou qualquer reação imediata, mas seus olhos lhe denunciassem o tesão. Ele não me olhava, não conseguia, estava fascinado com meus lábios abertos bem diante de sua face. – Sabe o que é isso? Perguntei outra vez, como se quisesse despertá-lo de um transe. Sei. Ele respondeu com um leve sorriso. – Sei que você desejava há muito tempo a oportunidade de poder devorá-la, via em seu olhar o desejo pulsando toda vez que eu entrava em sala, toda a vez que trazia versos de amor e de loucura. – Isso te incomodava? Ele conseguiu me dirigir aquela pergunta com uma coragem renovada, talvez fosse já a realização de que nós dois, ali juntos, não poderíamos fugir ao destino. – De maneira alguma, pelo contrário... Desconfiava que você ficasse excitado ao me ver em sala. Então pus minha mão no seu membro, para senti-lo endurecido, para deixá-lo mais excitado. – Seu corpo já agora me mostra que eu tinha razão. Não é verdade? Ele deteve-se outra vez sem dizer uma palavra. Sentia apenas minha mão acariciar seu pau endurecido. Os olhos queriam fechar mas ele se conteve. – Sempre que a ouvia recitar aqueles versos, meu único desejo era fuder com a senhora.

Levei-o até o sofá próximo à estante de livros da sala. Sentei primeiro e delicadamente abri minhas pernas, enquanto eu terminava de despir meus seios. – Agora chupe meus lábios como se fosse devorá-los, rapaz, devore-os como você desejou ardentemente fazer cada dia que me via, a cada aula. Porque hoje terá uma aula como nunca, uma aula que jamais se esquecerá.

O garoto tampouco resistiu. E como sua boca era divina! Como a alma dócil e voraz daquele garoto podia me enlevar tão arrebatedoramente! Eu parecia perder a razão ao sentir sua língua roçar meus lábios, sua pele inocente e delicada afundada em gozo profundo era a mais indescritível das sensações. Eu podia não dizer mais nada. Podia me entregar em intenso orgasmo.

Mas eu queria mais. Enquanto ele se perdia entre as minhas pernas, minha boca se pôs a recitar versos.

Fome! E, na ânsia voraz que, ávida, aumenta,
Receando outras mandíbulas a esbanjem,
Os dentes antropófagos que rangem,
Antes da refeição sanguinolenta!


Naquela ânsia voraz, eu me decompus em êxtase. Já não me reconhecia, nem lembrava onde mais estávamos. O risco era chegar a gemer tão alto a ponto de atrair a atenção para nossa sala. segurei o quanto pude. Para me controlar, acendi um cigarro, e a cada baforada minha boca exalava um gemido de prazer no ouvido do rapaz.

Um temor repentinamente me sobreveio – e se alguém viesse até aqui e nos encontrasse agora, eu sentada fumando, e entre as minhas pernas um aluno devasso supostamente sob meus cuidados, devorando minha intimidade no berço azul das névoas matutinas? Por certo, não seria a primeira vez que algum desses professores se trancava em uma sala com seus alunos. Valia o risco, pensei. Valeria mesmo? Não estaria, afinal, sucumbindo a esse Mistério da Carne Soberana? Mas poderia desejar não ser quem sou, poderia não desejar esta devassidão intensa, este pulsar de excitação? Eu ansiava por ser conduzida a nado até o horizonte de mim mesma, até o mais fundo de meu próprio abismo. E aquele jovem corpo era meu guia!

Entre o gozo que aspiro, e o sofrimento
De minha mocidade, experimento
O mais profundo e abalador atrito...
Queimam-me o peito cáusticos de fogo
Esta ânsia de absoluto desafogo
Abrange todo o circulo infinito.

Fi-lo gozar sem qualquer cerimônia, quando minha boca recolheu seu membro endurecido, todo ele, de uma vez. O rapaz estava louco de tesão, sequer pôde esperar para penetrar a fundo meu mundo interior. Tanto melhor. Era minha forma de deixá-lo cedendo. Sabia que eu estaria a partir de agora em seus sonhos mais inconfessos, e sua ânsia pelos meus versos levaria a que ele descobrisse poesia pelo toque das suas mãos. Estava feito ali mais um poeta. Depois de alguns minutos e um beijo, ele saiu pela porta, um pouco vermelho, ainda extasiado, por certo esperançoso de que pudesse ainda fuder minha intimidade algum outro dia. Bem que eu teria apreciado isso. Fiquei aqui, porém, um pouco mais, remoendo essas sensações que ele me fez sentir, exalando pela minha boca as baforadas do fumo acalentador, nua e indefesa.

Talvez fosse o perigo daquela situação aquilo que me excitava. Corro o risco de ser exonerada do mundo normal, condenada por devassidão. Talvez isso me deixe perdida em sofrimento, insatisfeita. Nada que o gozo do prazer não valesse a conta. E prazer se diz em versos, se eleva pelo êxtase até os limites do aceitável. Sou uma insatisfeita por natureza. Gosto da sensação de me perder no amor para me encontrar ao final. Nua e indefesa. Inconfessada para o mundo. Ao menos meu trabalho, feito com esmero, alivia-me o fardo da consciência – trabalho de ensinar poesia às jovens mentes deste país cheio de gente conformada com a miséria de si mesmas. Sempre será minha preocupação, meu dever será, com prazer, ofertar a esses garotos sua primeira poesia. Para me descobrir indefesa na suavidade inocente do olhar selvagem dos instintos.


Na insaciedade desse gozo falho
Busco no desespero do trabalho,
Sem um domingo ao menos de repouso,
Fazer parar a máquina do instinto,
Mas, quanto mais me desespero, sinto
A insaciabilidade desse gozo!



A Augusto dos Anjos,

Por seu legado poético.

Aforismos

A precisão nos faz perder as nuances que há naquilo que cada vez mais precisamos.
....
O mergulho na imaginação pela arte,
O mergulho no mistério pela religião,
O mergulho na razão pela filosofia,
O mergulho no sentir pelo sexo -
Todos são formas de arrebatamento!
....
Há algo de admirável e de mítico na figura da prostituta
- Talvez por ser ela a única capaz de cobrar pelo prazer,
e de sofrer por isso.

Romeo and Juliet

When he shall die,
Take him and cut him out in little stars,
And he will make the face of heaven so fine
That all the world will be in love with night,
And pay no worship to the garish sun.


Juliet, by Shakespeare

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O que é a alma?

- O que é a alma?
O senhor coçou a cabeça e cerrou os lábios. Estava sem palavras, e tentou desviar seu olhar do óbvio. - A alma é como um espelho, disse ele enfim.
- Um espelho?
- Sim, como o espelho que nos revela quando frente a ele nos detemos.
- Mas então minha alma não sou eu?
- Olhe para a lagoa, disse o velho. Vê ali a imagem daquelas árvores?
- Mas claro!
- Pois então, digo que para elas a água que lhes reflete a imagem é a sua alma. Pense ainda: se a imagem refletida não existisse, haveria alguma possibilidade de aquelas árvores se conhecerem a si mesmas?
- Mas elas não podem se conhecer apenas porque vêem sua imagem refletida na água!
- Porque elas não possuem alma! Mas e se fossemos nós ali, a ver nossa imagem refletida no espelho d' água. Acha que conseguiríamos entender que aquela imagem revelada é a de nosso próprio ser?
- E como não?
- Pois então, isso mostra que em nós existe algo que se distingue da pura e simples materialidade. Somos o corpo visto, assim como a alma que vê!
- E quão bela me parece ser essa visão!

Victory of the difference

How could think about this possibility?
The hope returns - thanks to Bush!

sábado, 1 de novembro de 2008

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra

by Carlos Drummond de Andrade

O menino e a árvore

Sabe, leitor querido, quando a gente deseja fugir do sol porque o castigo que ele nos impõe nesse verão é terrível e desgastante? – nesse momento eu vejo como é agradável estar abrigado sob uma árvore. Aqui debaixo corre um vento gostoso, uma brisa suave, brisa fresca do vento da tarde, mas sem o calor insuportável desse verão terrível. Aqui debaixo eu posso descansar da minha longa caminhada até a cidade, posso desligar a minha cabeça das preocupações com a minha irmãzinha. Ela está muito doente, e por isso tenho de ir a cidade, buscar alguns remédios para ela – Mas parar algum tempo sob essa árvore para descansar não fará mal algum.
O caule da árvore em que encostei é enorme, muito mesmo, parece aquelas árvores antigas, mais velhas que minha bisavó, já tão mutilada pela idade avançada. Essa aqui é tão velha quanto minha bisavó, pelo menos parece ser. E quantas folhas ela sustenta nos muitos galhos que ela tem! É por isso que a luz e o calor do sol não me atingem aqui debaixo.
Sinto minha boca secar. Onde vou conseguir água agora, nessa estrada deserta? O sítio mais próximo é quase duas horas daqui. Acho que eu deveria continuar a caminhada até a cidade, senão não chegarei a tempo de levar o remédio para minha irmãzinha tomar antes de anoitecer. Mas essa árvore é tão agradável! Ela é até muito bonita. – A senhora é muito bonita, dona Árvore. Ela finge que não me ouve. Mas árvore não tem ouvido. Ela nem ouviu o que eu falei mesmo. Eu posso falar pra ela qualquer coisa, e ela nem poderá me ouvir.
– É, dona Árvore, as coisas não vão indo muito bem, sabe. Minha irmãzinha ta doente, papai ta querendo sair de casa: disse que não agüenta mais a mamãe reclamando no ouvido dele o dia todo, todo o dia. E mamãe, coitada, ta sustentando a família só pela graça de Deus mesmo, é o que ela diz. Mas eu acho que Deus não gosta muito dela não. Acho que ele não gosta da gente, da nossa família toda. É, dona Árvore, acho que ele não gosta nem um pouquinho da gente.
Engraçado que a bonita da árvore não podia me ouvir, mas quando eu falava alguma coisa de Deus, ela parecia se mexer, parecia que ficava incomodada. Ora, é só impressão minha – Oh moleque, é o vento, diria o meu pai. Ele gostava de dizer que a gente não pode acreditar em tudo que vê. Na escola, a professora já tinha falado isso também, ela falou que o sol não girava em torno da terra, era a terra que girava, junto com alguns planetas, ao redor do sol. É muito interessante isso, porque eu pensava que não, que era o contrário, como a gente pensa quando não conhece as coisas. Mas tem muita coisa que a gente vê e que também não conhece. A árvore balançando agora – meu pai disse que é o vento, ele falou que a ciência estuda essas coisas. Mas não podia ser Deus? Como a gente sabe que é o vento? E mesmo assim, não podia o vento ser um sopro de Deus? Minha mãe gostava muito de falar de Deus pra mim. Ela dizia que a gente sem Deus não é nada. Mas e Deus, seria alguma coisa sem a gente também?
Eu não gosto de ficar pensando nessas coisas. Mamãe disse que se a gente duvidar vai direto pro inferno, e lá tem muito fogo, faz um calor dos diabos! E eu não gosto de calor e de fogo, e de sol, por isso é que eu to aqui debaixo dessa árvore, tentando fugir desse calor. – Mas a senhora não pode fugir do sol hein, dona Árvore! A senhora tem que ficar parada aqui todos os dias, todas as noites, sem dar nem um passinho pra esquerda ou pra direita. Eu não conseguiria ficar aqui durante toda a minha vida. É muito tempo, dona Árvore! Eu não ia poder brincar com os meus amigos, correr no campo, descer a ladeira de patins. É muito chato ficar aqui parado pra sempre! Mas é bom porque eu posso passar aqui sempre, e sentar debaixo da senhora, e descansar um pouquinho até chegar à cidade. Se a senhora não estivesse parada eu não poderia ficar aqui parado também, e se eu voltasse amanhã também não poderia sentar aqui porque talvez a senhora estivesse em outro lugar, talvez no campo correndo também, ou descendo a ladeira. Que bom que árvores não podem descer a ladeira!
A minha irmãzinha pegou um resfriado danado, ela ainda ta de cama e com muita febre, vai fazer já três dias. Sei que com o remédio ela vai melhorar. Eu já melhorei uma vez, quando eu tinha uns dois anos e era um ano mais novo que minha irmãzinha. Eu estava com muita tosse e febre, aí tomei o remédio e pronto! Passou tudo no outro dia. Como esses remédios são bons pra gente! A gente podia morrer sem eles... – A senhora não tem como tomar remédio, não é dona Árvore? Que pena. Mas deve ser muito difícil a senhora pegar um resfriado ou ficar com febre, não é? Deve ser sim.
Já pensei na morte algumas vezes. Não gosto da morte. Ela parece vazia, escura – um nada que me deixa angustiado. Por isso eu gosto da vida, ela tem tanta variedade de beleza, tantas formas e espaços – isso me diverte, gosto da diversão que o diverso me causa. Mas a morte... Que pavor! Tudo tão vazio, tão silencioso, tão... sem vida! Eu não gosto de pensar nisso, não sei, parece que me atemoriza não poder mais abrir os olhos, não mais falar, ouvir e tocar ninguém. Eu sentiria muita falta de poder andar, correr no campo, descer a ladeira de patins. Se eu morresse, eu seria um jovem muito triste porque eu não existiria mais. É muito ruim não existir mais. – A senhora eu sei que existe, dona Árvore. Sei que a senhora está aí, quieta, calada, sem poder me ouvir, mas eu sei que a senhora existe, porque é a senhora que gerou essas folhas que cobrem a luz do sol. E a senhora está sorrindo por dentro porque está viva, porque pode viver, gerar folhas, sentir o vento, sentir minhas costas encostadas na senhora. É bom quando a gente sente que outra pessoa existe.
Eu to gostando de uma menina lá do colégio. Ela é muito bonita. – É até mais bonita que a senhora, dona Árvore. Vê o quanto eu a acho bonita? Pois é, ela me deu um beijo na semana passada, ficou a marca do batom rosa que ela usa, ela é mais velha, mas eu gosto dela. O nome dela é Juliana. Nome bonito o dela... Juliana. Se eu tiver uma filha, mesmo se for com ela, vai se chamar Juliana. Ela é a primeira garota de quem eu gosto de verdade. As outras são muito esquisitas, umas tem uns cabelos feios, outras uns olhos esquisitos, umas mãos magrelas, mas Juliana não. Ela parece uma modelo de tão bonita! Eu queria muito me casar com ela, mas não sei se ela vai esperar eu conseguir um trabalho e poder sustentar nós dois. A situação ta difícil pra gente arrumar um trabalho bom. Meu irmão mais velho até já terminou a faculdade, mas ele só conseguiu trabalho numa loja de computador. – Bom é ser árvore, nem precisa trabalhar, come e dorme e vive sem precisar trabalhar. Mas a gente... a gente tem que ralar pra conseguir alguma coisa boa. Tomara que a Juliana me espere pra gente se casar. Senão vou ter que me virar sozinho mesmo.
O sol parece que ta mais fraco agora. Deixa eu ir embora.
Eu não vou ter que me virar sozinho. Eu tenho a minha mãe, e a minha irmãzinha. Elas me amam. Se a Juliana não me quiser, eu fico com elas. – O ruim é que árvore não pode se apaixonar, não é mesmo dona Árvore? Eu não queria ser árvore não, sem amor não tem graça. A vida fica mais bonita quando a gente sabe que existe alguém que ama a gente, que brinca com a gente, que vive com a gente – e que morre com a gente. Se a senhora soubesse o que é o amor, dona Árvore, a senhora iria com certeza querer ser igual a gente.

Soneto do meu amor

Porque não me apercebo, desfaleço
Pela culpa em saber quanto me ama
Este amor que te faz, já não mereço
Que me tome no prazer da tua cama

Teu corpo que se esconde no pijama
Na cama, não escondo meu apreço
Pele nua que se deita - uma dama
Nesta noite saberei que eu pereço

Formosa travessura do desejo
Loucuras do prazer de amar-te sempre
Perdido no sabor deste teu beijo

Se é possível algum dia um livramento?
Livrar-se do amor é impossível
Sem que a alma naufrague em sofrimento

Obama neles!



O Rio de Janeiro está dividido: de um lado a cultura, de outro as UPAs; de um lado o democrata, de outro o republicano; de um lado o humano, do outro o animalesco. Mas há espaços indecisos, há aqueles que se abstiveram. Volta novamente a paixão pelo pleito - Será que também há salvação acima do Equador?


Vale a pena a leitura de seus textos - este que talvez seja o maior filósofo brasileiro vivo; talvez.

The reading of his texts is worthwhile - this one that perhaps is the biggest Brazilian alive philosopher; perhaps.

http://www.olavodecarvalho.org/

Anne Rice sai das trevas

Em dia de Halloween, os vampiros e seres da escuridão perdem um de seus mais conhecidos escritores - Anne agora pertence ao mundo da luz! As trevas terão que cultivar outras almas... Será que Stephen King terminará assim?

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A lua e a mulher

Que afinidades especiais pareciam existir entre a lua e a mulher?

Sua antiguidade em preceder e sobreviver a sucessivas gerações telúricas: sua predominância noturna: sua dependência satélica: seu reflexo luminar: sua constância sobre todas as fases, erguendo-se e pondo-se em suas horas indicadas, ficando cheia e sumindo: a invariabilidade forçada de seu aspecto: sua resposta indeterminada à interrogação inafirmativa: sua força sobre as águas efluentes e refluentes: seu poder de enamorar, mortificar, investir com beleza, tornar insano, incitar e auxiliar a delinqüência: a inescrutabilidade tranquila de seu rosto: a terribilidade de sua isolada dominante implacável resplendente propinqüidade: seus presságios de tempestade e calmaria: a estimulação de sua luz, seu movimento e sua presença: a advertência de suas crateras, de seus mares áridos, de seu silêncio: seu esplendor, quando visível: sua atração, quando invisível.

Ulisses, by James Joyce - Tradução de Bernardina da Silveira Pinheiro, 2005.

Aquela conversa

Pois é isto que me aconteceu, acabamos tudo deste jeito.
De que jeito?
Abruptamente, como começamos.
Não me admira, vindo de você.
Pois fui capaz de admirar-me de mim mesmo.
Em que sentido?
Por terminarmos sem ter havido sentido algum...
Para terminarem?
Não, para continuarmos juntos.
Estranho...
Pois veja, não posso continuar com uma mulher com quem não sinto mais prazer.
Mas isso em tão pouco tempo!
Porque não falo de um desejo sexual por ela...
Não entendo.
Não tinha mais desejo de estar ao seu lado.
Como se ela lhe provocasse um mal-estar?
Exatamente!
Entendo o que quer dizer.
Você já sentiu a mesma coisa por alguém?
Sim, claro. Alguns homens depois de um tempo me enojavam...
Isso! Eis o que senti por ela!
E como ela se sentiu?
Nem me fale!
Diga!
Confesso que me fere ter de terminar essas relações sem um motivo aparente...
Sem um sentido...
Não havia mais sentido de continuarmos aquela relação.
Porque não havia mais sentido de estarem juntos...
Exato! E sofro por não sentir mais o desejo que me moveu a possuí-la...
E acaba por feri-la.
Que monstro que sou!
Não se desespere. É normal que aconteça.
Como normal?
O que sentiu por ela nada mais foi que desejo sexual.
Sim, um desejo impetuoso...
E que por sê-lo se desfez, como névoa.
Por que razão?
Porque seu coração não foi atingido.
Fala de amor?
Falo de torpor.
Queria ter sentido meu peito vibrar ao saber que a veria!
Não sentimos isso por todos que desejamos.
Mas é errado então desejar quem não nos atinge o peito?
Que há de errado em desejar por um instante?
E como saber que o outro também apenas lhe deseja?
Mas você se privaria do prazer de possuir o que deseja pelo outro?
E não deveria privar-me?
Quem suporia este dever senão o outro?
Mas não poderia eu também vir a ser o outro?
Mas ser o outro já não lhe mostraria a possibilidade de sofrer por isso?
E não deveria não desejar sofrer?
Mas por que supõe que o desejo não lhe faria sofrer?
E por que deveria desejar o que me faz sofrer?
Mas caso não, você não estaria se privando de certos desejos?
E não é o que deveria fazer? – Preciso saber!
Por quê?
Por que o quê?
Por que deveria fazer isso?
Não desejar o que me faz sofrer?
Isso, por que se limitar a desejar aquilo que não lhe faça sofrer?
Não estou certo em me pôr no lugar do outro?
Quanto ao seu desejo?
E como não?
Mas isso não seria um tanto impróprio?
Por que razão?
Você poderia dizer que o seu desejo sempre equivale ao desejo do outro?
Não estou parecendo claro, não?
Tem dúvida?
Esclareço então. Não posso negar que meu desejo seja tão variado quanto variados são os tipos de mulheres que se pode desejar. Meus olhos percorrem lugares e corpos, e quase sempre se detém naquele que provoca em meu corpo as sensações mais agradáveis. Vejo uma e suas pernas me provocam; outra e seus seios me instigam os sentidos; e não consigo deixar de não notar as curvas sinuosas e latentes de uma bela bunda à minha frente; e quando muito sou como que tomado de incontrolável pulsão sexual pelos gestos e olhares e tudo o que pode me excitar naquilo que ela parece com o corpo desejar sentir. De modo que me sinto terrivelmente seduzido ou por um belíssimo corpo – quando então o que desejo é prová-lo em todo o seu sabor – ou por um lascivo mistério – quando minha vontade não quer nada senão provar de todas as possibilidades que aquela criatura parece me oferecer. Contudo, deste primeiro momento poucas realmente acabam por se realizarem, já que não só depende da minha vontade, mas também da vontade alheia, para que o desejo se torne em prazer e não termine perecendo como frustração e sofrimento. E este é o primeiro ponto de onde começa uma necessária relação com o outro, da qual não se pode escapar – a não ser que eu esteja decidido a não me submeter aos critérios da vontade do outro, e resolva então procurar aquelas criaturas que me ofereceram o prazer que quero no corpo que desejo, sem me privar do instante: mas como, se o meu desejo não está em possuir a facilidade de pagar para realizá-lo, e sim no processo de conquistar o objeto de desejo para então possuí-lo? Quem paga para obter a lascividade da mulher se abstém de sofrer pela impossibilidade de ter o que deseja, mas acaba mergulhando na mais plena fatalidade de relacionar o poder que possui ao dinheiro e não a si mesmo.
Como que perdendo seu próprio valor por conferi-lo ao dinheiro.
E fazendo com que sua vontade sempre seja conduzida por esse tipo de poder, nunca tal sujeito poderá vislumbrar as reais possibilidades de desenvolver-se e cultivar-se. O homem de dinheiro corre o risco de perder seu potencial civilizador porque deixa de se importar com o cultivo de si, de sua alma – e isso tem sido minha preocupação constante: o cultivo da minha alma.
Mas poderíamos dizer que todo aquele que se relaciona com esses tipos perde sua cultura?
Tendencialmente é o que se pode concluir.
Sabe que está indo contra boa parte dos homens, não?
Importa-me saber se o que digo e o que faço é ou não coerente.
E acha que tem razão ao dizer isto dos homens de dinheiro?
Acredito que não posso elevar culturalmente uma relação como essa, mediada.
Elevar culturalmente?
Pôr em destaque, como ideais de convivência e de relacionamento humano.
Ou seja, aquilo que não eleva no homem sua humanidade?
Ou aquilo que o rebaixa à animalidade.
Então você está pondo a limitação como inerente ao desejo?
É o que inegavelmente nos ocorre quando em convivência, quando em relação com o outro.
Por isso é que não podemos nos livrar do sofrimento de não podermos ter muitas vezes o que desejamos?
E como poderíamos?
Pois isto ratifica o que eu disse antes...
Mas não totalmente.
Não vejo como não.
Discordamos exatamente no modo como tratamos o outro em nossos desejos. Se concordamos que sofrer pelo que se quer é inevitável, não entendemos do mesmo modo como este sofrimento pode nos polir e nos educar. Porque para você, o fato de haver um inevitável sofrimento na vontade, não significa que eu deveria por conta disso pensar no que posso estar causando ao outro, seja ao preteri-lo se ele se aproxima, seja negando a realização de seu prazer, seja ainda oferecendo-lhe tal realização por um instante menor que o de sua expectativa. Em todo o caso, devo fazer aquilo que desejo.
É o que digo.
Pois sendo assim, o sofrimento do outro nada significa para a nossa vontade.
De modo algum.
E então o que sobra?
Cada um fazendo aquilo que deseja, sem medo de vir a sofrer por não realizá-lo.
Mas esta diferença entre as nossas visões acerca da relação com o outro se deve justamente pela concepção de desejo da qual não partilhamos. Para você, o desejo está primeiro na propensão a se relacionar intimamente com o outro. Mas não creio que possamos resumir o desejo apenas a este ponto. Porque nada nos parece menos humano e bárbaro que o desejo tomado nele mesmo e somente naquilo que o origina. O que quero dizer – não posso condensar todo meu desejo por uma mulher em seu corpo instigante e em sua libido avassaladora e misteriosa. O problema está justamente em não se resumir a uma constante caça selvagem ao prazer as relações entre os homens. Não se pode negar que a dimensão ‘espiritual’ que constitui tudo aquilo que denominamos como humanidade se vislumbra tão somente no espírito, não no corpo.
Estou entendo o que você quer dizer...
Não tento mostrar uma separação entre o desejo carnal e o espiritual, mas antes ressaltar que o problema do desejo e do outro se potencializa quando agregamos a dimensão de alma humana, seus desejo e suas vontades.
E o que podemos concluir?
Não pretendo concluir: apenas mostrar de algum modo aquilo que tanto me faz sofrer, pelo modo como terminei este relacionamento.
E o que acha então de sairmos está noite?
Por que razão?
Porque além de saber que você me deseja – ainda que não tenha me dito isso eu sei que o sente – eu pareço ter descoberto uma forte atração pelo seu espírito, pela sua alma, não só pelo que você disse, mas principalmente pelo que você me mostrou realmente ser.
E isto lhe fez desejar sair comigo?
Reitero o convite.
Pois isto muito me surpreende...
Não te deveria surpreender as coisas do espírito.

terça-feira, 28 de outubro de 2008














Quero pôr meus pés na terra molhada
Quero entender que o amanhã
Incerto como a mais certa das hipóteses
Leva minha vida, minha cor, leva-me
Como que pelo vento do que não é ainda
Sem saber que pouco sabe o vento
Seja de onde vem, seja para onde vai

Quero pôr-me sob os galhos de uma árvore
Sob a sombra entardecida de Outono
Onde belas flores jazem mortas
Onde não mais se ouve a voz dos pássaros
O canto que florescia à luz do dia
Que não mais floresce hoje em dia
Sou levado tão somente a compor.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Momento fugaz, que anseia ser perene


















O que vou dizer de fato não é nenhuma novidade - mais uma vez o populismo e a máquina do governo levaram mais uma eleição. O problema, contudo, é que isto se deveu em grande parte à estratégia política, executada pelo Governo Estadual em parceria com a União, de levar para bem longe uma parcela significativa dos cidadãos cariocas. Sim, me refiro a brilhante jogada de adiantar o feriado do servidor público destas duas esferas, de terça para segunda, emendando aqueles tão queridos e louvados "feriadões" pelo qual espera ansioso todo justo trabalhador [incluindo-me entre esses, claro]. O problema é que esse "feriadão" poderia comprometer o futuro de toda a cidade do Rio nos próximos quatro anos - E não é que comprometeu? Pois está aí, meus queridos - Há algum? - leitores: elegemos o "nosso" prefeito e pagaremos a pena por isso. Mas como: elegemos, nosso? Longe de mim! O problema é que, mesmo não fazendo parte da terrível massa que votou pela Paes, e o que é mais impressionante, não tendo fugido do meu dever cívico para alguma das incontáveis praias deste litoral abençoado, pagarei juntamente com todos por essa omissão, por esse descaso com a cidade e com seu futuro, cidade que possuía uma oportunidade histórica de tomar novo rumo e alcançar melhores ares... mas preferiram Paes... Se pudéssemos responsabilizar os culpados, condená-los! Mas quem? Os justos trabalhadores da máquina do governo, que preferiram o sol e as ondas a se imiscuírem em mais um pleito sem sentido? A massa votante que pelas ruas, pelos santinhos espalhados pela cidade, pelos cartazes dependurados nas janelas e nos carros, bradavam em alto e bom som a vontade de terminarem tudo em Paes? A nós que exercemos nosso dever de cidadãos e comprometidos com o futuro da cidade optamos pela cultura e não pelo populismo? De quem é a culpa? Parece-me que o verdadeiro culpado de tudo isso - e não posso resistir em dizer, porque esse demônio que se pôs ao meu lado não para de me perturbar com essas palavras! - Sim, me parece que o verdadeiro culpado, aquele que deve ser responsabilizado por todo o descaso e atraso e fracasso de uma cidade gloriosa, é ele, senão outro - Certamente devemos culpar este que ainda é o "nosso" prefeito: mais uma vez devemos culpá-lo, Cesar Maia! É sua a culpa por não ter também aderido a esta manobra política de adiantar o feriado, obrigando seus pobres e vitimados servidores municipais a comparecerem às urnas e decidirem pelo futuro sozinhos. Sim, o demônio tem razão - Cesar Maia é o culpado, o único e ninguém mais! Viva os cidadãos maravilhosos da cidade maravilhosa! (sic)

domingo, 26 de outubro de 2008

Um protesto - ou uma lição!









Eleitor faz protesto na hora do voto, em Pelotas (RS)

Nunca mais

Mais um dia que eu a via sem lhe dirigir qualquer palavra. Queria dizer o quanto a admiro, a desejo, mas parece que as palavras fogem pela covardia. Covardia como falta de coragem – Falta-me coragem para lhe dizer o que sentia.
Às vezes ela havia sorrido para mim. Claro que já havíamos trocado algumas frases, sempre referentes ou à aula ou à matéria, nunca nada além disso. Houve uma vez que ela tentou falar sobre uma dificuldade que estava tendo em chegar mais cedo para estudar. Algo por demais trivial, como quase sempre acontece entre colegas de classe – Mas por que não consegui dar seguimento? Por que não indagar um pouco mais sobre os motivos que a faziam não conseguir chegar cedo à faculdade? Por que não provocá-la para que ela enfim falasse sobre si mesma – para que então eu pudesse falar sobre mim? Por que minha boca se fechava ao mais ínfimo desejo de confessar o que sentia?
Ela era uma garota muito interessante. Talvez fosse por isso que meus lábios estavam imobilizados. E se soubesse que nunca mais a veria, que nossas vidas seguiriam rumos tão diversos, que nos afastaríamos por tanto tempo! Pois ontem, quando a vi na fila de uma peça de teatro, lindamente vestida, completamente divina – Ah, quanto tempo faz! Teria então coragem para lhe dizer o que há tanto tempo sinto por ela? Mas seria este sentimento o mesmo que aquele de doze anos atrás? Dez anos depois, meus olhos ainda me convenciam de que sim, que era ainda o mesmo sentimento. Talvez uma paixão ardente, um fogo inextinguível – Talvez fosse amor, como por nenhuma outra mulher eu havia sentido.
Pouco mais de doze pessoas me separavam dela. A fila permanecia imóvel, à espera do espetáculo. Ela conversava com outra mulher. Pareciam grandes amigas. Isso me deixava com receio. Depois de dez anos, falar de algo que ela mesma nem se recorda, diante de uma pessoa desconhecida... Passaria por louco, certamente. Mas estou louco de amor! Amo aquela mulher, como a nenhuma outra! Devo lutar por ela? – Não devo. Serei incompreendido. Neste momento, passarei apenas por inconveniente - e não quero esse fardo.
Um cara se aproximou das duas. Pôs-se ao lado dela e... ele a beijou! – Não pode ser, beijou a mulher que amo! Não, não é verdade! Como posso tê-la perdido? Assim, sem tentar ao menos? Dói-me tanto o peito! Ela nunca saberá tudo aquilo que senti... Saí da fila do teatro e da vida dela, para sempre. E estarei para sempre ferido em meu peito. Para sempre dilacerado pelo meu próprio destino.